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-4 '-, Seleta em ProDs e Verso de ~3nuel E~nde i::.u . Or;$ E~anuel de ~orae~-
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Livraria José Olympio EU$
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Rio de Janeiro,1975,2êed. . .---------. o que ainda guardava
do Curvelo. Dum momento de tundo desânimo, da mais aguda
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liA úllima Canção do B~co"Ué o melhorpoemaparaexemptiCicarcvmo em minha poesia quasetudo resulta de uni jogo de intuições. Não (aço poesia quando quero e sim quando ela, no meio poesia, quer. E da quer às vezesem horasimpossíveis:
sele si/abas. . (Itinerário
Carlos Drummorld ãe Ar.drade. no poema "Cidade-.:inhaQualquer": "c.asas enlre bananp.iras/Mulheresentre larisl1jeiras,'iXlnlar3mQr cano tar./Um homem vai devagar./Um cachorro vai devagar./Um burro vaidevagar./Devagar...asjanelasolham.tEtavidabest3.mto:J04:us". Essa pasmaceiracaracterizaa ida besl.1", E ela tl/nto pc.c!ede~c:'. reI' da fali:! de s~nlidona vida. comoda contrarif:dadp. impú~tapeio viver colidiano àquele que sonha viver cúm as v~rdadeira.s !x':e:;C,IS do mur,do. (Ver péÍgs.45. 4Ge 47.1-9. Ver pág, 14~,
POESIA E VERSO
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. DIA,ao comcç3r a escreverum Ih'ro didático sobre iiteralura, tive que dar uma definiçãoda poe~i3e embatuquei. Eu,quedesde os dez anos de idade faço verSOSieu, que tantas vezes sentira a poesi:l.passar em mim como uma corrc:nte el~!ric3 e aOuir aos meus olhos sob a forma de: mi~teriosasláenmas de UM
alegria: não soube no momento forjar já não digo uma-definição racional dessas que. segundo a regra 133. 1.6~ca. d::vem con..-ir a todo o dcfinido e s6 ao definido, mas uma d~finição puramente
na Faculdade de Filosofia ou sair para 11m jantar de cerimônia, ., "A última Canção do Dcco" nasceu num momentodestes, só que o j:.mlar,n50 era de ccrimüniJ. Na vesperade me
mudar da Rua MúrJis e \'ale, Ús sds e lanto Lia t;mk. tinha eu acabado de arrumar os meus tnx;os e cairJ ~:
Crevi
~)
de Pasárgada)
1. Poema do livro Belo Belo.-2. Ver pág. 133.-3. Ver pág. 151.-C. Ver pág. 146.-5. Ver pág, 133.-6. Ver págs. ~5 c 156,-7. Ver pág. 146.-8. Aêxprcs:>ãoé de Mário de Andr:ldc.A meL~or definiçãoe a de
dJ noitc, ou quando estou em cima da hora para ir dar lima aula
m.b.
de cor. .. De ,,'oltaa casa, bati os versos
na máquina e fiquei espantadíssimoao veriticar que o poema se compusera,à minha revelia, em sete estrofes de sete versosde
sensação de tudo o que eu não tinha leito Da minha vida por motivo da doença, saltou-mede súbito do subconsciente esse grito estapaIÚIdio: "Vou-me embora pra PasiÍrgada!" Senti na rcdondilha a primeira c~lula de um poema, e tentei realizá-Ia, mas fracassei. Já nessc tempo eu n50 forçava a mão. Abandonei a idéi3. AlguDs anos d~pois, em id~:'lti::as circunstãncias de dc:;alc:nto e t~dio, me ocorrclI o mesmo dl.:sabafo de evasão da "vida besta".8 Desta "cz o poema saiu sem esforço, corno se já esti\'esse pronlo dentro de miut. Gosto dcsse poema porque vejo ndt!, em escorço, rvda a //linha I'ida; e tambémporqueparece que nele soube transmitir a tantas OUltas pessoas a visão e promessa da minha adolescência-essa Pas:írg:HJaonde podemos viver pelo sonho o que a vjJa madrasta não DOSquis dar. Não sou arquiteto, como meu pai desejava,n50 fil nenhumacas:t,mas reconstruí, e "não como {arma impcrí~itanc~tc mundo de ap:m:ndas", uma cidade ilustre, que hojl.! nfio é mais a Pasárgadade Ciro, e sim a "plinha" Pasárgatla.
26
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empinea, arti5tica. literária. No aperto me sOI:orride Schillc:r, em
quem o crítico era tão grande quanto o poeta, e dbse com eI::_
.J
"Poesia é a força que atua de maneira dh'ina e in3pre::noida, além e acima da conscicncia," Sabeis o que é atuar de mant'ira divina? Confessolisamente que 1'150 sei. Mas conheçoda po.:siJ. por experiência pr6ptia, essa mandra inaprc~mJidad~ açiio: nunca puuc' explic3r, em muitoscasos, a emoção4uC me a~sÍllta\'a ao ouvir ou ao ler Cl:rtClS versos, certas combinaçõesde p3Ia\'ras.A propósito, vou contar-vos uma an~dota. Havia na Avenida Marechal Floriano u~ hotel que se chamavaHotel PenínsulaFc:rnancJes.Tod:1 w:%.q~e eu passava por ali e via na tabuleta aqufl~ n"me Hotel PenimulJ ultto.
(81
27
.
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, r";cle a intervençãoposterior em estado de \'igilia foi mínima. O soneto, com tÍlulo c tudo é fielmente o do sonho. Th'c de o interpretar como se eu fosse um estranho a mim mesmo, como qua!qucr um de vós o poderia interpretar segundo as sugestlXs do seu sulx:onsciente estimulado. Para mim-mensag~m do mcu subconscienteà minha consciência,mensagemmuito vag.amente apre~ndida por csta e de novo reCrangidapara o seu mundo ori. giDal. Assenlado que a poesia pode atu3r dentro ou fora, acima ou abaixo da consciência,comecei a registrar todas as definiçõesde poesia que lui encontrando ao acaso de minhas leituras. Organizd assim uma pequena antologia do assunto. São numerosíssimas e o poeta Carl<,>iDrummond de Andradc depois de mim ainda assin3lou numa crõlt.ÍI:auma porção del:1squ: eu não conhecia.M3S é possívelreduzi-Iasa uma meia dúzia de tipos, que lhes facilitam o exame. Se Dão, vejamos: .~, Cerlos aulores deCinema poesia comoJl.:-ç5Q,:"Poera", es.:rC\'eU ']I Jooson, grandedramaturgo inglês,contemporâneode Shakespeare e um dos homensmais cultos do seu tempo, "é, não aqu~le que escrevecom métrica, mas o que fiDsee forma uma f:íbula, pois fábula e ficção são. por assim dizer, a forma e a alma de toda obra poéticaou poema". E o mesmoconceitodc dois outros grandíssimos poetas ingleses seiscentistas: Donne, que dissc "a poesia é como uma simili-Criação e faz coisas que não existem, como ~ se existissem",e Dr)'den, para quem "a ficção é a, essência da
Fernandcs, sentia não sei que pcquenillo alvoroço-alvoroço em suma de:qualidade poética.E ficava intriga<.líssimo. Por que aquele botei se: chamava Península Fernandcs'! Urna tarde meu primo António Bandeira, igualmente invocado pelo estranho nome, não se conteve, subiu as escadas e foi falar ao proprietário, que era um português terra-a-terra e sem nenhuma fumaça de literatUra. -O senhor m~ desculpe a curiosidade, mas por que é que o seu boteI se chama Península Fernandes? -Muito simples-respondcu o bomem.-F'rnandes porque é o meu Dome, e P'llÍnsula porqu~ é bonito! O nome estava realmente explicado, mas a emoção poética não: atuava de maneira inaprccndida. }; assim que muitos fatos de rua atuam sobre a nossa sensibilidade. Dois automóveis colidem, ou uma senhora desmaia, ou um
homem é assassinado,ou uma estrangeiraem trânsito para Bucnos desembarca na Praça Mauá em trajc~ pouco mais que me-
Air~s
nores; lorma-se logo um ajuntamento e os que vão chegando e aderindo ao grupo e os que olham de longe não sabem ainda o que se passou. Paira no ar um certo tumullo emocional, criando uma como que
atmosCerade poesia. Pois bem, o poeta suscita a
mesma coisa, só que mediante apenas uma colisão de palavras. Quando Schillerdisse quea poesiaé uma força que atua além
c acima da consciência,pareceque queria reCerir-se àquele mundo do subconscienteque todostrazemosdentro de nós. A poesia seria cntão a ponte entre o subconsciente do poeta e o subconsciento
do leitor, Se adotei DOmeu livro a definição de Schillef.foi porque ela esclarece, a meu ver. a poesia menos acessh'el, a que não ocorre no foco da consciência.Mas é evidenteque a poesia pode nascer também em pleno Cocoda consciência,e portantoatuar de maDeiraclaramenteaprcensíve!.Em meu poema "Palinódia"l a cstrcrf fe central é perfeitamenteinteligível. Mas eu mesmo não saberia e"plicar as estroCesinicialc íiua!. Elas pertencema um poema que fiz durante um sonho.Ao despertartentei recompô-Ioe não me loi p0ssível fazê-Io senão parcialmente. A estroCe Inteligível resultou de um trabalhomental em pleno Cocoda consciência;as outrasduas foram elaborauasde maneira inapreendidana franja da consciência.Tenho a minha interpretação delas,masDãovo-la comunicarei: é segredo profissional. Nas mesmascondiçõcsde "Palinódia" estáo meu soneto"O Lutador",' também elaboradoem sonho, 28 mo b.
poesia". .
Perguntoeu agora: não haverá poesia quando realizo em p:Uavras uma transposiçãoda realidade,sem inventarnada, s:m "fin. gir" nada? Como neste poema': O arranha-céll sobe r,q ar puro q/le foi la~'ado pela cJul\'a E desce refletido na poça de lama do pátio. Entre a realidade f! a imagem, Quatro pombar passeiam.
"
2:-
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Poema que é uma simples reprodução por imit3ção, para empregar as velhas palavras de Arisl6leles. Já o Dante acrescenta ao elemento Cicç30um r,\Jvo elementoa música, e diz: "Poesia é ficção rel6rica posta em 'música'," O
clemento mú~ 11
no chiio seco que as separa,
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aparecer em numerosa! outras dc:finiç~s. pocsi~":-escreveuCar1ylc,"chamaremospensameptomusical." "l,lll 29
IE Rusbn, moralisla, cmina quc ela é "a arre~enlaçiío, em forma lmusical, à imaginação, de nobres fundamentus às nubres emoções". Não se pode negiJrque a música seja um ekmenlo da velha poesia, da poesia ao tempo em que ela foi assim definida. Hoje sabemos que pode haver poesia sem música, e poesia da melhor. Sem música, bem eDt~ndido, no sentido de Dão procurar o pocta fazer o verso cantar DO pacma. Outro poeta, c que poeta! o grande romântico Coleridge, de.Ci--. niu o poema "aquela espécie de composição que se opõe às obras de ciência por visar como objeto imediato o p'~I e não/a ~Ç!: dade". O objeto imediato, porque em profundidade ele é "a identidade de todos os oulros conhecimentos,a flor e o perfumede I lodo o humano conhecimento". . \~ E aqui entramos DO conceito de pocsia-coDhecimento, Muitos são os que o afirmam.Para Lautréamõnt.eTaanunciaas relações existentes entre os primeiros principios e as verdades secun-II dárias da vida. No\'alisjá disseraque "a poesia é o realabsoluto"." E o moderno Maritain pn:cisa: "Poesia é o conhecimento,incomparavelmeDte: conhecimento-cxperiência, conhecimento emoção, CODheCimentoexistencial. Ela é o fruto do contacto do espírito com a realidade em si mesma inefável e com a sua ronte, que ~ acreditamos ser DCU5." O epíteto "inefável" leva-nos a um grupo de definiçõcs. onde cuimina. O conceiro na definição de Edwin Arlington Robinson. grande poeta norte-americano: "Poesia é a linguagem que nos i diz, em virtude duma reação mais ou menos emocional, alguma coisa que não pode ser dita." Devo esclarecerque todas cssnsdefiniçõese muitasoutras que coligi, aparecemem contexto onde se procura apreendera essência do fenõmcno poético: não foram apresentadas isoladamente como definição no sentido lógicoda palavra, c de isolá-Iascomo fiz, resulta uma certa mutilaçãodo pensamentode seus autores. Nada obstante, cada uma contém uma parcela de verdade, ilumina um ângulodo problema,que é talvez insolúvel.Todasme parecem falar em termos de poesia, cum o seu vago, o seu mistério. Nenhuma se relere ao que é a matéria-prima da poesia Da arte literária-as palavras, e tanto se podem aplicar à arte literária como à música e às artes plásticas. Paul VaJéry menciona-as Duma definição que é um pequenino poema: "Poesia é ,'-: .., ~ ~b. ~
.
a tentativa'ue repr~senlarou de reslÍtuir por meio da linguaccm arriculada aquelas coisas ou aquela coisa que os geslos,-a~ l.f~im~ carícias, os beijos, os su~piros procuram obscuramente exprimir." E André Gide foi desenterrar de um prefácio esquecido de Danville esta definição, que espanta tcnha saído da cabeça de um daquelesmestresque Thib:lUdetchamou os Tetrarcas
(
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do Pamaso:."Poesia... essamagiaque consisteem despertar _sensaçõespor meio de uma combinação qe sons... essesortiiégio graças:10 qual idéias nos são nccesSariaiDêõi'é -comunic:adas.de uma. maneira cer.ta, por meio de palavras que todavia não as "
~
expnmem. Comentando largamente a definição de Banville,.comcça Gide pelos voclbulos "magia" e "sortilégio" (sorcel1erit): "Valéf)", de maneira volunhiriamente ambigua, dirá clJarme... O verdadeiro poetaé um mago.Não se trata tanto para ele de ser comovido, mas de ~~~ o IcitoLa comQY-,[:!e: 'po~ m~~__~~..un".!.5ombinaçáQ~LJi~~ão palavras. Que a sIgnificação oess3s p3ta-vras importa, não será preciso dizer; não, porém, indepcnJ~ntemente da sonoridadedelas. O verso deliciosode Racine, tão !teqüentemene citado como exemplo de cncantaçãoharmoniosa: Vous moura,es ali bord ou "'OILSjúli'S laissée.4 Mudai as palavras.
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V
J.
.'1;/'1r Idizei: Yow iles morte
~ '" ,. .' ;;1./"
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SUl lt ri~'age ou Thrseéroustn'ait abandonnÜ.a O signHicndocontinua o mesmo, OIas o 'encanto' desa. ~re~" \ Ma!lamlétinha razão: "Não é com idéias que se fazem \'ersos:
,
~
é com palavras."Não que o sentidodc:lasn50 importe. lmp"rla, mas não como advertiu Gide. independentementeda sonorid:uJe, delas. Naturalmenteo sentimentoestá sulxntendido, é ele que faz achar as combinaçõesde palavras sll$citadorasda cm~50 poétiC3.
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b_.E.m.nJ;!e
dificul~~.~çE!.'
está_em .que.. uns se: co~o\.em
'_gi~t~ ~Jos versose Q..utr05..n@. Há pessoas que acham IDtc:"n53 poesia nos versos de Murilo Mendes;outras Dãoa IIchamncI~i.l. 1I ~: ,.~. nhuma, encontram-D3é nos sonetosde Emüio de Meneses,oado os admiradoresde Munia Dão vêemsequer a sombra d&:la.E h3 ..., . tO',"?': ~t1 as que não suportamnem wn nem outro: gostam ~ da s\u'\!e músiC3de 01egárioMariano. Afinal em ~sia tudo é relativo; I
I
,
a ~ia não existe em si: será uma ~relaç!o.~lre o mundo inle_.,-- .. -.--- __o-.. -. ... ~-- .. . .. "l,ra 31
I) rior do poeta, com a sua scn<;ibilidaJe, a ~ua cultura,as suas
.(
vivências, e o mundo interior daquele que o lê. ~ Se passamos da definição úe poe5ia para a dcCiniçãodo verso, ~ as dificuldades diminuem, mas não desaparecem. Abri um tratado de versifícação .qualquer, o de Dilac e Guimarães Passos, por exemplo, e ali vereis deCinido o verso como "o ajuntamento de pala\Tas, ou ainda uma s6 palavra. com pausas obrigadas c determinado número de sílabas, que redundam em música". Em nota traduzem os dois autores o francês Quitard: "A etimologialatina das palavras 'prosa' e 'verso' claramente indica a diferença essencial da sua significação: 'prosa' vem do adjetivo latino prosa (subentcndcndo-se o substantivo oratio, discurso, oração)-cratio pro- ..,..(.\. sa, discurso continuo,seguido, e respeitando a ordem gramatical\ 'y~)
direta; 'Verso' é derivado de verJUS,do verbo ~'ertere,tornar ou .:r-/. voHar,-porque, uma vez esgotado um certo número de sílabas, a oração se interrompee volta de novo ao ponto de partida, a fim
de começar outra evolução silábica." A definiçãode BiJace GuimarãesPassos,queé maisou menos a de todos os outros tratadistas, podia servir para a nossalínguae ~_
. mais algumas outras mas s6 até o advento do verso livre. Que, '" definição se pode dar do verso,de modo que ela se :-splique a qual- l;~ quer idioma, vivo ou morto, e em qualquer tempo? Pedro Henríquez-Urciia, o grande mestre dominicano, há pouco falecido, tcntou, a meu ver com ê;dto, essa definição mínima. Poesia, poesia 11:10sentido formal, ensinou ele, é Jj!1g~lí~g~!p'_
.
J'ErCéJta.DQY~ ~ ~s'!..anb~.h.~I1JSlJa"_
-
. .
1/
O que diferencia os diversos tipos de versificaçiio através de todos os idiomas e de todos os tempos são os expedientes de que se valeram os poetaspara pôr em maior evidênciao ritmo. Expe.-. dientes como: valores de sílabas (quantidade), acentos de inten. 32 m. b.
sidade bem marcauos, regulação dos tons ou dikrenç3s de 311ura mu!;ical entre 3S snahas, número fixo de. snah:l~, rima, alitcr:lç50. encadeamento, paralelismo, acróslico. Na versificação portuplC5a os apoios rítmicos de que temos exemplos são o número fixo de: sílao3s, a CeSllr:I,a rim:l, a aliteração. o enc30camcnlo, () p:1ralelismo e o acróstico. Talvez muitos de meus lcilores n50 cstej3m a par do significadode rodasessaspalavras.Do encad~amenlo,do paraIelismo,por exemplo. O encadeamentoconsisteem repetir de verso a verso, ou de: estrofe a estrofe, Conemas, palavras c !rases. Foi, com o paralelismo, muito usado Da poesia hebraica, c dele se serve quase infalivelmente em seus poemas o nosso algo bíblico Augustro Frederico Schmidt:
t I
I
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~'Porque ciwrar..,1eo céu cstá róseo, ~ j /.. Se as flores estão nas trepadeiras balançando, ao sopro Il!\'e do [Vc!nto. Porque clwrar se há leliciJadé nos caminhos, Se há sinos batendo nas aldeias de Portugal?
Nesse poema do Canto da Noite o poeta só abandonaa interrogação "porque chorar" para passar à locução cncadeadora "feliz como~: Porque chorar-meu Deus, se estoll leri: e pobre. Felir. como os pobres desconhecidos dos IrClSpitais. \ Feli:, como os cegos para quem a rur. i mai.r bda do quc a lu:, Feliz ('01110.,. ete. O paraJelismo..é_ue~ti~~!c!:?lósica: Encadeamento e pJfJk. lismo tiveram il Sua Case de ouro em linsua portUguC$3no tempo dos cancioaeiros. O que chamaram "cossantc" era Unia cantiga paraIcIística c cncadeada. Assim esta "barcarola" de MutilD Codu: Ondas do mar de Vigo, Se vistcs meu amigo! .? E ai, Deus, ~ ~'errdc(do! ) "v,Job'
0l
Ondas do mar levado, Se viste.r meu amado! E ai, DeU.1,se rerrd ctdo!
'.
,tttra
33
tra, também versejou a~sim. O que :sdmira é quc até ,\lbcrlo de Oüveira., mestrc de uma escola dc rigorosa métrica, haja procedido da mesma mancira, talvez in3dvcrlid3mente, quando em "O Exame de Hercilia" escrcvcu: Subiu ao A tias de um ,salto E ao Kilimandjaro,' logo De tão alIo, Ao Barh-al-AbialJde água clara .J Baixou e (J()saibro de logo Do Saltara. O quarto verso ("Ao Barh-al-Abiah de água clara") tem oito sílabas, mas a primeira ("ao") se embebe Da última sílaba do verso anterior, de: sorte que DOcontexto da estrofe se mantém o ritmo do heptassíJabo. Há ca.sos até cm que é forçoso quebrar o verso para manter o . ritmo. Como fez Casimiro de Abrcu na célebre "Valsa". O poema está distribuídoem versosde duas sílabas: Tu, ontem Na dança Que cansa, Voavas Co'as face.r
Em rosas Formosas De Vil'O, Lascivo Carmim
Mas na última estrofe pôs o poeta a palavra "pálida" no fim de dou '\'ersos: Na valsa Cansaste,' Ficaste Prostrada, Turbada! Pensavas, Cismavas, E estcrvcu
36 m. b.
Tão pálida Então;
I o
./
Qual pálida Rosa Mimosa, No \'a/e Do ,'enio Cruel/to Batida, Cawa Sem vida No chão! O vocábuiõ prQparoxítono obrigava o poeta a abdr o \'erso seguinte por uma palavra começando por vogal ou a quebrar o metro de duas sflabas para uma. Casimiro valeu-se de um e outro recurso, um da primeira .'el, o outro da segunda. Se elc não tivesse atendido à interrelação dos versos e em lugar de "então" dissesse "DO inst3.Dte"e em vez de "rosa" escrevesse "camélia", o ritmo seria sacrificado: PeIUQ\,(U, Cismavas, E t'sta~'(U TeG pálida ""0 instal/te; Qual pálida Camélia
Mimosa... Foi em ob:;ervação:1 C5SC jogo de ressonânciasde um vcrso em outro que eu no poema "Doi morto", escrito em octossiJabos. quebrei a medida DOterceiro verso da última estr,,!e, Disse atrás que o encadeamento é o principal apoio rítmko de que se serve Augusto Frederico Schmidt nos seus poemas. Adalgisa Nery, que também" emprega. ainda que menos assiduamente que Scbmidt, o encadeamento, começou a usar da rima em versos não metrificados, :1 partir, creio que do seu livro Ar do Deserto, que é de 1943: ul,to 37
~
Se
:'u'/~J
O por
E ai,
[craç:iona ~eguntJae terceira ;:~Irofrs da "Canção do Exílio", m:u a verdade é que ess::;:;rimas ao contrário d50 à pequena obra-prima n:.o sei que incfj';d mu,icalidade:
I1It'U (L7:ig:).
q;,l' ,:1.1Ju.;p.:r.;' Dr:/Lr, .re \'crrá ""f,,,
Se \Útcr
Não p&"fllita Ikus que ('li morra S('m que \'olte para lá,' Sem que dcsfrllle os primores Que ,IJOdr.rfrUlO por cá; Sem qlle inda avisteaspalmtiras, Onde C!lf/;a o sabiá.
11Iell alllati!) ,
O por que ei gran c;Ú;'.;do! E ai, Dms, se vem; ceGo!
Essa cantiga é parale1í5tica porque a idéia
das estrofes
ímpares
i:!3 C'il rofes
pares repelem
11
com 1i;~:~;!S alt~raçõcs de palavras
para variar o timbre da vogal tônica Ui:l5 ;:m~s (i e a); é encadcada, porque o segundo verso de cada e:;t~~:~ ímpar s:: repetc como primeiro verso da estrofe ímpar 5(;guj:1:~. . Já a rima é apoio rítmico muito cr.;.;:c::ido. mas sÓ cClmo igual- 2-.:..~«.. a I'.. . dade de sons no fim das palavras a t-.~rti. da vor,al lL'nica châlDada rima CO;lSQ,lntc.Muita gcnt:: a:;1Ja n~() '~:l!J;: da~ rir.las"'; .: 1. toantes, isto é, aquelas em que só 5:;:' :;Ja!s as vopis a partir i 1Í.;
-
~
oa lônica, como em "asa" c "cada",
e:ho" c "quero". R3ros sabem que no latim ccksiástko, n:l ;:-:csia inglesa e na aJem5 basta, para haver rima, a repetição J.l wltima sílaba átona c até da última vogal átona. Lcmbrai-vos d:J Vem, SaneIe Spiri/Us: Veni, Sancte Spiritur, Et emitle coelit/l.r Luci.! tuae radiurn. G
"',-,-,
.
De súbito, nos versos 67 c 68. Caz cair as pausas na quarta sétimassüabas, apro~imanJo o rilmo dcca5sil:íbico do ritmo do verso de onze sílabas, que vai aparec::r nl\5 ,'"rsos 70 e 71:
~
Lembrai-vos de Shakcspearc, que n() ~;:nc.:,oprcf:lciador de Romeu e Ju[iela rima "dignity" com ",r::::;'I:)'''; de ~,Elton yue no
il
hfc":.s se I','cé fala: "Eu 8(1S;.1 d,' "(I('é!" I Aí ('u (mito dr: d:or,1r MlüTj:('oI1I(II(f,
soneto "On Shak~pearc" escreveu: Thou
i/1 Ola' wond('r
lias b/lilt thyself a rimando
"astonÜhmfllt"
com
Ela ttio It:I'i}:a e ttio çhria de ef/Cllllto, Ela tão 1:01'0, IdO pura e t:Wh'la. .
IJIIJ r :c)IlÜ!:mell( Iive/l1f1.:? mOllumml,T "mOI::m:I:Ilt",
Lcmbrai-vos
Heine, que rima "leh /icbe dich" com "bl!/t'fiich"; Doei. WCI1I1du sf"ichst: .. L-:: lit'be dich!" So I1If/.SS icll wdnen úitl<',:,:,h.&
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m.b.
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A rr:ar-mt:!-Eu que S()u~ M el/s O/!/(IS erLft:rgam, ellquanto cfudda MinHa/ma scm Cfcmra, de !'''í(l e.wtirida, Id farta da "h/a, Qut' amor "ão .1,)irIJu.
dI'
1
Finalmente pouca gente já Ic.:rá reOc.::;.;,) que :1 ::;Llcl':!;jo é, no fim de contas, uma rima ao contra:I,). OIJ seja, uma rima dus começos das pala'ms. Sei bem que n~o houve intt:nção, pelo menos consciente, da pane: de Gonça!v:s Dias em rimar por ali-
34
O número lixo de sílab:Js, com pausas obrigauas, é sem dúvida o mais imperioso mwônomo do rilmo. Todavia não é preciso ficar-!>e no mesmo metio para manter o me5mo ritmo. No poema de Gonçalv~_s Dias int:tulado "Minha Vida e mcu~ Amorc:s" ocorre uma mudança...dem.:tro lDuito intcrcssH1te. O poeta vinha ...:.scjando em decassilat".1sacentuados na s~xta sílaba ou na quana e oita\'a: OUlra \'('': que lá fui, que o I'i, que a medo Tmk:J ~'O':lhe csculei:-Sonhci cr.>r.ligo!lllefá~'d pra~er ballhou I1It'Upeito, Se,,:; dâícia.s; m!1.Sa s6s comigo Petl.rci-;::/I'e~!-e já "tio pude crc:.h
.:
.~t.
I
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O movimento ríunieo de um vcrso poJ: sdrer
a influência Ul)
verso anterior ou do s::guinte. ~ sabiJo que na pOI:siaespanhola e na poI1uguesa antiga a vogal inicial de um verso podia embeber-se no verso pre:.:edenle.Gonçalves Di:1s,t50 lido numa e nou,tltla
3.5
Á medida que o ~',nio 110 li:,:, ("orpo C("OIl, Cr~sce no meu c.spíriro o sentido da.r vidas Qcon.".cida.r, BaJan.çando nos meu.> o/lvido,r o pen.ramento que apregoa Os
.soluços
e
a
solidão
das
almas
inuti/menl~
..
perli:r.cidcu.
Ow-:>
-:
I
j
Mas verso Jj\TCcem por cenlo é aquele que não se socorre de nenhum sinal exterior senão a da volta ao ponto de partida ..t.i.\"I'Io{ ! à esquerda
da Colha
do papd: verso derivado de vertere, voltar. I"
primeira \'ista, parecemais Cácilde fazer do que o verso metrificado. Mas é engano. Basta dizer que no verso livre o poela'tcm A'
de ~~~~~~íIi~L~_e
a palavr,a "ajuntamcnto", que me ~oa vag:lrncnlC'a coisa ilícita, e acrcscenta!:se a obrigação da rima e do duplo acróstico! Canconlais7(De Poctcu~ de P~sia)
11
li
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como o sujeilo que
'-SõTio no recesso da CJorestádeva achar o seu caminho e sem bússola, sem vozcs que de Jong: o orientem, sem os grãozinhos de Ceijãoda história de João e Maria. Sem dúvida não custa nada escrcver um trecho' de prosa e depois distribul-Io em linhas irre-
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Poema do livro Llbertlnagem.-2.
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gulares, obedecendo tão-somente~~E~J!s~~_do _ pensament~. Mas isso nunca Coi verso livre. Se fosse, qualquer pc5So~qiõderia pôr em verso até o último relatório do Ministro da Fazenda. Essa enganosa facilidade é causa da supcrpopulaçãode poetas que infestam agora as nossas letras. O modernismoteve isso de catastrófico: trazendo para a nossa língua o verso livrc, deu a todo o mundo a ilusão de que uma série de linhas desiguais é poema. Resultado: hoje qualquer subescritur6.riode autarquia em crise de dor-
Por isso era semprecom delícia que eu lia as críticas de Elói Pontes no Globo e é sempre com prazer que leio as de Derilo l'eves no Jornal do Comércio, críticos sem contemplaçãopara com a poesia que não se exprime em \'ersos medidos e rimados. O que me entristeceé ver que eles nunca tenham tido influência bastante para pôr um paradeiro nesse "babaréu de medíocres", como costumava dizer o primeiro no seu curioso estilo. Por isso tenho às vezes uma grande tentação de ~quecer tudo o que aprendi com mestre Urefia e dizer e jurar para toda a gcnte que "verso é o ajuntamento de palavras, ou ainda uma 56 palavra, /I com pausasobrigadase det:rmiDado Dúmc:rode sílabas", como ensinavam BUac e Guimarães Passos. Isto é, talvez substituísse
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,;." b.
Po.::ma do Ii\'ro Belo Belo.--3. "A
Realidadec a L-nagcm",do U\'TOBelo Belo.-C. "Vós morrcstes à margem onde tostes deixada."-S, "Você morreu sobre a costa onde Teseu a Unhadeixado "Vem. EspíriloSantc./E en\'ia do Céu/Oraio da tua luz."-7. "Tu de nosso pasmo e assombramento/Tumesmocons. trulsle todo um monumenlo."-a. "Mas se você laia: 'Eu gosto de você!'fAI eu tenho de chorar amargamente." (Trad. de Paulo R6nai).
A POESIA ESTA NAS PALAVRAS
Mliçãodemesmo tempo compreendi,ainda antcs de conhecera MaJlarm~,que em literaturaa poesiacstá D3Spala\'ras, AS AO
se faz com palavras e não com idéias e sentimentosmuito ~mbora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou ~Ia tensão do espírito que acodem aO pocla as combinações de palavras onde há carga de pocsi:1.Coisa que ucscobri nos lapsos de memória ou no c:tame de variantes. Qu:u\tas vezes, querendo rclen1br:u uma estrofede poema,uma trova popular,e n50 conseguindo reconstituí-Ias fielmente, fazia U..ImdhN maneira d rrmpli.fsag~.." depois, cOlejando as duas vc:rs6es-õ\ minha e (1 origin:lI, \'eriCicava qual delas era melhor, rc.~quisava o s::grl'do da sup.:-rioridadc c, descoberto, passava a ctiji.zj.lo nos ml'US\'l'rSl1S.QU:lOt3s vezes tamb~m \'i, em poetas de gosto certeiro nas cm~ndõ\s.um verso defeituoso ou ine~pressi\'ocarregar-sede poesia pelo efeito
encantatório de uma ou de algumas pala\'ras, e:tprimindo no en-
tanto o mesmo sentimentoou a mesma iJéia que as substituídas. Compare-se, por exemplo, o poema "Mocidade e Mortc", de Caslro AJves, como apareceu em Espumas FIll(/lanlrS,com a primeira versão, de 1864, e publicada em São Paulo por volta de 1868-69 sob o título d: "O Tísico". Na oitava inicial ha\'ia o verso "No seio da moreoa há tanIa amoral". Na versão definitiva "amora" foi substituída por "aroma". Naturalmente o poct3 pondcrou quc as amoras do peito das morenas não são taDt:u. Itltta 39