OPERAÇÃO BEM SUCEDIDA Robert A. Heinlein *** — Como se atreve a fazer tal sugestão! O Médico do Estado obstinadamente pe...
10 downloads
286 Views
65KB Size
Report
This content was uploaded by our users and we assume good faith they have the permission to share this book. If you own the copyright to this book and it is wrongfully on our website, we offer a simple DMCA procedure to remove your content from our site. Start by pressing the button below!
Report copyright / DMCA form
OPERAÇÃO BEM SUCEDIDA Robert A. Heinlein *** — Como se atreve a fazer tal sugestão! O Médico do Estado obstinadamente perseverou em sua posição. — Eu não a faria, senhor, se sua vida não estivesse correndo risco. Não há outro cirurgião na Pátria Mãe que possa transplantar uma glândula pituitária a não ser o Doutor Lans. — Você vai operar! O médico fez que não com a cabeça. — O senhor morreria, Líder. Minha habilidade não é adequada. O Líder esbravejou pelo apartamento. Ele pareceu a ponto de se entregar a uma daquelas explosões de raiva pueris que mesmo o grupinho do estado interno tanto temia. Surpreendentemente ele se rendeu. — Traga-o aqui! — ele ordenou. O Doutor Lans encarou o Líder com uma dignidade inerente, uma dignidade e presença que os três anos de "custódia protetora" não tinham conseguido abalar. A palidez e a magreza do campo de concentração o devastavam, mas sua raça estava acostumada à opressão. — Entendo, — ele disse. — sim, entendo... posso realizar a operação. Quais são os seus termos? — Termos? — O Líder estava chocado. — Termos, seu suíno imundo? Você está tendo a chance de redimir em parte os pecados de sua raça! O cirurgião ergueu suas sobrancelhas. — Acha que eu não sei que não teria mandado me trazer se não tivesse outra opção? É óbvio que meus serviços se tornaram valiosos. — Você fará como for ordenado! Você e os da sua espécie têm sorte de estarem vivos. — Mesmo assim não operarei sem meu pagamento. — Eu disse que você tinha sorte de estar vivo... — O tom era uma ameaça aberta. Lans plantou suas mãos sobre a mesa, mas não respondeu. — Bem... fui informado que você tem uma família... O cirurgião umedeceu os lábios. Sua Emma – eles iam machucar sua Emma... e sua pequena Rose. Mas ele tinha de ser bravo, como Emma iria querer que ele fosse. Estava jogando por um prêmio alto – por todos eles. — Elas não podem ficar pior mortas, — ele respondeu com firmeza, — do que estão agora. Passaram-se muitas horas antes que o Líder tivesse se convencido que Lans não podia ser demovido. Ele devia ter sabido – o cirurgião tinha aprendido a ter coragem no colo de sua mãe. 1
— Qual é o seu pagamento? — Um passaporte para mim e minha família. — Já vai tarde! — Minha fortuna pessoal devolvida... — Muito bem. — ... a ser paga em ouro antes que eu opere! O Líder começou a objetar automaticamente, e então pensou consigo mesmo. Deixe o tolo presunçoso ficar pensando assim! Isso podia ser corrigido após a cirurgia. — E a operação deverá ser feita em solo estrangeiro. — Disparate! — Devo insistir. — Não confia em mim? Lans o encarou de volta sem responder. O Líder o atingiu, com força, na boca. O cirurgião não fez qualquer esforço para evitar a pancada, mas sim recebeu-a, sem alterar sua expressão... — Você está disposto a ir em frente com isto, Samuel? — O homem mais jovem olhou para o Doutor Lans sem medo enquanto respondia. — Com certeza, Doutor. — Não posso garantir que você vá se recuperar. A glândula pituitária do Líder está doente; o seu corpo mais jovem pode ser ou pode não ser capaz de agüentar – esse é o risco que você corre. — Eu sei – mas estou fora do campo de concentração! — Sim. Sim, isso é verdade. E se você se recuperar, estará livre. E eu mesmo vou cuidar de você, até que esteja bem o bastante para viajar. Samuel sorriu. — Vai ser um prazer de verdade ficar doente num país onde não há campos de concentração! — Muito bem, então. Vamos começar. Eles retornaram para o grupo silencioso e nervoso do outro lado da sala. Implacavelmente o dinheiro foi contado, cada centavo que o famoso cirurgião dizia ter direito antes de o Líder ter decidido que os homens de sua religião não precisavam de dinheiro. Lans colocou metade do ouro num cinto de dinheiro e o amarrou em volta da cintura. Sua esposa escondeu a outra metade em algum lugar em seu amplo corpo. Foi uma hora e vinte minutos depois que Lans largou o último instrumento, fez sinal que sim para os outros médicos que o auxiliavam e começou a tirar as luvas cirúrgicas. Deu uma 2
última olhada para seus dois pacientes antes de deixar a sala. Eles estavam anônimos sob os tecidos esterilizados. Se ele não soubesse, não poderia dizer quem era o ditador e quem era o oprimido. Isso dava o que pensar, com a troca daquelas duas minúsculas glândulas havia algo do ditador na vítima e algo da vítima no ditador. O Doutor Lans voltou para o hospital mais tarde naquele dia, após certificar-se de que sua esposa e filha estavam instaladas num hotel de primeira classe. Era uma extravagância, em vista de suas perspectivas incertas como um refugiado, mas eles não tinham desfrutado de qualquer luxo nos últimos anos lá – não pensava sobre aquele lugar como seu país natal – e isso justificava este gasto. Ele perguntou no escritório do hospital pelo seu segundo paciente. O atendente pareceu perplexo. — Mas ele não está aqui. — Não está aqui? — Oras, não. Foi movido ao mesmo tempo que Sua Excelência – de volta para o seu país. Land não discutiu. O truque era óbvio; era tarde demais para fazer algo pelo pobre Samuel. Agradeceu a seu Deus que tivesse tido a prudência de colocar a si e a sua família fora do alcance dessa falta de justiça brutal antes de operar. Agradeceu ao atendente e saiu. O Líder finalmente recuperou a consciência. Seu cérebro estava confuso – então ele se lembrou dos eventos de antes de ter dormido. A operação! – deve ter acabado! E ele estava vivo! Nunca tinha admitido para ninguém o quão terrivelmente assustado estava com a perspectiva. Mas ele tinha vivido – tinha vivido! Tateou à sua volta procurando a corda do sino, e, não conseguindo encontrá-la, gradualmente forçou seus olhos a focalizar o quarto. Mas que ultraje ridículo era este? Este não era o tipo de quarto apropriado para o Líder se recuperar. Ele viu o teto sujo de um branco aguado e o assoalho de madeira com desgosto. E a cama! Não passava de uma cama de armar! Ele gritou. Alguém entrou, um homem vestindo o uniforme de um soldado em sua unidade favorita. Começou a dar a ele a maior bronca de sua vida, antes de fazer com que fosse preso. Mas foi logo interrompido. — Cale a boca, seu porco maldito! Num primeiro momento ele estava espantado demais para responder, então deu um grito agudo: — Fique em posição de sentido quando se dirigir ao seu Líder! Faça a saudação! O homem ficou pasmo, e então deu uma gargalhada. — Mais ou menos assim? — Ele foi para o lado da cama e fez uma pose com seu braço direito erguido em saudação. Carregava um cassetete de policia nele. — Salve o Líder! — ele gritou, e desceu seu braço com força. O cassetete bateu bem na bochecha do Líder. Outro soldado apareceu para ver o que era o barulho enquanto o primeiro ainda dava risada de sua esperteza. — O que há, Jon? É melhor você não tratar esse macaco tão duro – ele ainda está na lista do hospital. — Ele? Você não sabia? — Puxou o outro para o lado e sussurrou. 3
Os olhos do segundo se arregalaram e ele sorriu. — É mesmo? Eles não querem que ele fique bem, eim? Bem, um pouco de exercício faria bem pra mim esta manhã... — Vamos chamar o Gordo, — o outro sugeriu. Ele sempre tem umas idéias tão divertidas. — Boa idéia. — Andou até a porta e berrou: — Ei, Gordo! Não começaram a trabalhar nele de verdade até o Gordo estar lá para ajudar.
4