Colecção Fluir Perene Volumes já publicados
N.º 2 Rodolfo Pais Nunes Lopes, Batracomio maquia: a Guerra das Rãs e dos ...
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Colecção Fluir Perene Volumes já publicados
N.º 2 Rodolfo Pais Nunes Lopes, Batracomio maquia: a Guerra das Rãs e dos Ratos (2008). N.º 3 Carlos A. Martins de Jesus, A Flauta e a Lira: Estudos sobre Poesia Grega e Papirologia (2008).
N.º 4 José Ribeiro Ferreira, Os Sons e os Silêncios – A Memória, a Culpa, a Valsa (2008). N.º 5 José Ribeiro Ferreira, Labirinto e Minotauro - Mito de Ontem e de Hoje (2008).
N.º 6 José Ribeiro Ferreira, Atenta Antena - A Poesia de Sophia e o Fascínio da Grécia (2008). N.º 7 Rui Morais, A Colecção de Lucernas Romanas do Norte de África no Museu D. Diogo de Sousa (2008). N.º 8 Armando Nascimento Rosa, Antígona Gelada (2008).
N.º 9 José Ribeiro Ferreira, Rui Morais, A Busca da Beleza: Vol. 1 - Arquitectura Grega (2008).
literatura grega – começando pelo
inevitavelmente mais simples, menos engenhoso e menos sincero, embora
extremamente rico em termos de fluência e expressividade imagética. Trata-se de poesia experimental – assumidamente experimental, pelo menos ao tempo da sua composição –, de exercícios poéticos à maneira de um outro poeta de talento reconhecido.
Com razão lamenta a Professora Maria Helena da Rocha Pereira, a
propósito dos Anacreontea, a forma como eles “transformaram os modelos graciosos e cheios de frescura do poeta de Teos em poemetos amaneirados e insulsos e tiveram, entre outros inconvenientes, este muito grave, de
obscurecer durante séculos a obra verdadeira, em proveito das suas
imitações.” Mas tal afirmação autoriza-nos, por outro lado, a reconhecer a esses poemas uma importância inegável, precisamente por terem influenciado tantos artistas ao longo dos séculos.
(da Introdução)
N.º 10 José Jorge Letria, Os Lugares Cativos (2009). N.º 11 José Ribeiro Ferreira, Três Mestres Três Lições Três Caminhos (2009).
humanista Robortellus, apenas três
Anacreontea
O estilo destes poemas, procurando imitar o de Anacreonte, resulta
Anacreontea – Poemas à maneira de Anacreonte
N.º 1 José Ribeiro Ferreira, Mitos das Origens - Rios e Raízes (2008).
Ao contrário de muitos leitores da
anos após a publicação da edição
princeps de Henri Étienne (1554) – sempre vi na poesia “à maneira de
Poemas à maneira de Anacreonte
Anacreonte” um género que encanta pela suavidade de expressão e pela
delicadeza imagética, além de se
tratar de uma excelente leitura para quem se inicia no Grego antigo, dada
a singular acessibilidade gramatical do texto poético. Estas razões levam-
me a saudar com sincero entusiasmo a iniciativa do Dr. Carlos A. Martins
de Jesus de dar a conhecer ao público
lusófono estes poemas em edição bilingue.
Frederico Lourenço
N.º 12 Carlos A. Martins de Jesus, Anacreontea. Poemas à maneira de Anacreonte (bilingue) (2009).
N.º 13 José Ribeiro Ferreira, Gaivotas.
Fluirwww.fluirperene.com Perene
Colecção
Colaboração
Associação Portuguesa de Estudos Clássicos (APEC)
Carlos Jesus
e, brevemente…
Fluir Perene
Carlos A. Martins de Jesus Prefácio Frederico Lourenço
Carlos A. Martins de Jesus
Anacreontea Poemas à maneira de Anacreonte
Prefácio
Frederico Lourenço
edição bilingue Colecção
Fluir Perene - nº 12
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Tradutor: Carlos A. Martins de Jesus Título: Anacreontea. Poemas à maneira de Anacreonte Editor: José Ribeiro Ferreira Edição: 1ª / 2009 Design Gráfico: Fluir Perene Na capa: Jean Auguste Dominique Ingres, Venus Anadyomène (1848). Musée Conde. Paris. Tiragem: 100 exemplares Obra produzida no âmbito das actividades da UI&D Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos Impressão: Simões & Linhares, Lda. Av. Fernando Namora, n.º 83 - Loja 4 3000 Coimbra ISBN: 978-989-96078-4-2 Depósito Legal: 302650/09 © Fluir Perene & José Ribeiro Ferreira © do tradutor Reservados todos os direitos ao abrigo da legislação em vigor. Fica expressamente interdita a reprodução total ou parcial desta obra sem prévia autorização dos titulares dos direitos. É no entanto permitida a utilização da versão online da mesma (www.fluirperene.com) em circuitos académicos e formativos restritos.
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no verso: Nascimento de Vénus de William Bouguereau (1879). Óleo sobre tela (229.7 x 217.8 cm). Musée d’ Orsay, Paris.
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Índice
Prefácio por Frederico Lourenço Introdução Anacreonte: o engenho de um modelo A forja literária e iconográfica de um novo modelo Os Anacreontea e o seu lugar na literatura europeia
9 11 11 14 17
Nota sobre a presente edição Edições e traduções Estudos
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ANACREONTEA / POEMAS À MANEIRA DE ANACREONTE
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Índice de Nomes
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Prefácio
Wo die Rose hier blüht, Wo Reben um Lorbeer sich schlingen, Wo das Turtelchen lockt, Wo sich das Grillchen ergötzt, Welch ein Grab ist hier? Goethe, Anakreons Grab
Ao contrário de muitos leitores da literatura grega – começando pelo humanista Robortellus, apenas três anos após a publicação da edição princeps de Henri Étienne (1554) – sempre vi na poesia “à maneira de Anacreonte” um género que encanta pela suavidade de expressão e pela delicadeza imagética, além de se tratar de uma excelente leitura para quem se inicia no Grego antigo, dada a singular acessibilidade gramatical do texto poético. Estas razões levam-me a saudar com sincero entusiasmo a iniciativa do Dr. Carlos A. Martins de Jesus de dar a conhecer ao público lusófono estes poemas em edição bilingue. O preconceito contra os imitadores de Anacreonte tem tido como consequência indesejável o esquecimento de muita da poesia que, durante mais de mil anos (da época helenística à bizantina), foi sendo escrita em registo “anacreôntico”, preservando o ritmo do dímetro iónico anaclómeno muito para além da passagem do século VI para o século VII d.C., momento de transição na história da redacção poética em língua grega, em que 9
as regras da versificação clássica foram caindo progressivamente no esquecimento. Com efeito, não são apenas os bispos Gregório de Nazianzo e Sinésio de Cirene que, nos séculos IV e V d.C., compõem poemas anacreônticos dedicados a Cristo e aos santos (situação tão desconcertante quanto curiosa, se pensarmos na prevalência da sensualidade, muitas vezes homoerótica, como tema fixo do anacreontismo helenístico); mais tarde, no século XI, Cristóvão de Mitilene escreverá um poema anacreôntico sobre a morte da irmã; e, mais tarde ainda, haveria de surgir na literatura bizantina uma modalidade poética de cariz espiritual em que os pecados do sujeito enunciador arrependido eram enumerados em forma de poema anacreôntico. Estes fenómenos, pertinentemente analisados por Patricia Rosenmeyer num estudo de referência (citado na presente edição), provam que estamos na presença de uma manifestação poética que, na diacronia da cultura grega, se revelou ser de extraordinária longevidade. Urge, portanto, conhecer os imitadores helenísticos de Anacreonte, que são o elo intermédio na cadeia que vai da época arcaica grega aos últimos séculos de Bizâncio. Para tal, esta edição exemplar do Dr. Carlos de Jesus – que vem postergar para o plano da curiosidade literária as anteriores traduções para português do corpus anacreôntico, todas elas marcadas pelas mesmas falhas no campo do rigor filológico - será doravante, para todos nós, o instrumento de trabalho privilegiado. Frederico Lourenço
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Introdução Anacreonte: o engenho de um modelo Não foi sem justiça que o conjunto das sessenta composições que constituem os Anacreontea foram, ao longo dos tempos, alvo de juízos pouco favoráveis, insistindo todos eles em levar a cabo uma comparação no mínimo injusta para uma das partes comparada. De facto, não poderia um conjunto de composições assumidamente imitações do estilo de um grande poeta conter a força, a vivacidade – numa palavra, o engenho – do seu modelo, Anacreonte. Mas voltaremos, adiante, a este assunto. Esse poeta, natural de Teos, teria nascido na primeira metade do séc. VI a.C. (c. 570) e morrido quando o século V ia já avançado, talvez em 485 a.C. De Teos partiu para a Trácia, quando, em 540 a.C., a sua cidade natal foi atacada por Harpago, um general de Ciro, para com os seus compatriotas aí fundar a cidade de Abdera. Terá marcado presença na corte do tirano Polícrates de Samos (c. 533-522 a.C.) e, já em Atenas, participado na política cultural do tirano Hípias (c. 527-510 a.C.). Tudo indica que uma vez mais terá rumado à Tessália, onde compôs em honra do rei Equécrates e de sua esposa, mas logo terá regressado a Atenas. A obra de Anacreonte, como foi coligida na época alexandrina, contava com cinco livros, ordenados, como era uso, por géneros poéticos. Informa-nos a Suda que o poeta teria composto elegias, iambos e canções de banquete (paroínia e symposiaká), além de referir já as anacreônticas, tudo isto no dialecto iónico. Outras fontes antigas referem ainda a composição 11
de hinos, epitáfios, canções de mesa (skólia) e hinos de louvor a raparigas (partheneia). Quanto ao que nos chegou, uma ínfima parcela dos versos compostos pelo poeta, conservamos de facto fragmentos de hinos, elegias, canções de banquete e algumas (poucas) linhas satíricas, escritas no metro iâmbico e inspiradas no estilo de Arquíloco1. Quanto aos temas que cultivou, e para sermos breves, recuperamos o pertinente esquema tripartido em que os agrupou, há quase meio século, a Prof.ª Maria Helena da Rocha Pereira2: erotika, sympotika e skoptica ou, traduzindo, poemas de amor, de banquete e de invectiva. No primeiro grupo cabem os textos de teor hetero e homossexual, as paixões por Cleobulo, Batilo e outros homens e mulheres, o lamento pelo constante insucesso amoroso (358, 373, 400, 413 e 428 PMG) e o desespero que, no limite, faz o sujeito desejar a morte (411 PMG). Não poucas vezes, a velhice é apontada como obstáculo à correspondência amorosa (358, 397 PMG), um tópico que será central nos Anacreontea onde, no entanto, tal obstáculo é sempre compensado e vencido. O poeta recusa a ambição (361 PMG) e os temas da épica (frg. 2 West), estabelecendo programaticamente o assunto dos seus versos: o amor. Especial destaque merece a famosa composição (417 PMG) em que o poeta se dirige, de forma irónica (porém reveladora de um forte erotismo) à “poldra da Trácia”, mulher conhecida por sempre recusar os seus pretendentes, mas que não há-de ter sucesso na negação do poeta, garanhão capaz de a dominar. É o symposion o cenário que domina o segundo grupo de 1 Poeta natural de Paros, terá exercido o grosso da sua actividade poética durante a primeira metade do século VII a.C. Ficaria, já na Antiguidade, associado à poesia invectiva e aos virulentos ataques que dirigiu a Licambas e às suas filhas, acusando-as de devassidão. 2 M. H. Rocha Pereira 1961: 31-43.
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textos acima referido. O poeta toca lira ou flauta, perde-se em cantigas e nos prazeres de um bom vinho, que recorrentemente pede a um criado que lhe traga (356 PMG). É Diónisos o patrono de toda esta folia sinestésica, um cenário adocicado pelo vinho, colorido e perfumado pelas coroas de flores que ostentam as cabeças dos convivas. Mesmo o breve fragmento da descrição da invernia (362 PMG), aparentemente isolado de qualquer dos grupos acima identificados, conteria com alguma certeza, na parte perdida, a descrição de um sentimento amoroso ou, por antítese ao frio da natureza, o convite aos prazeres aconchegantes de um banquete. Quanto à invectiva de inspiração arquiloquiana, em metro iâmbico, dela conservamos um menor número de fragmentos. Podemos no entanto ver um ataque a Ártemon no fragmento 373 PMG, onde é acusado de efeminado, e, fragmento 389 PMG, a uma cortesã não identificada. Mais do que os temas, é o estilo que confere a Anacreonte a palma da originalidade, quando posto a par de outros líricos da época arcaica. O amor e a poesia são ambos, para o poeta, um jogo. Se lúdico é o processo de sedução, o enamoramento ou mesmo a recusa do amor, também as palavras se prestam a usos complexos e expressivos, sejam anáforas, antíteses, hipérboles ou uma série de efeitos fonéticos que não importa pormenorizar. O poeta torna-se, assim, numa persona, por si próprio criada, num artista que se apresenta oculto sob uma máscara de hedonismo. Para dar apenas alguns exemplos, reparemos no frg. 428 PMG e na ambiguidade semântica que encerra, em apenas dois versos, De novo amo e não amo, estou doido e não estou doido.1 1
Tradução de F. Lourenço 2006: 59. 13
ou no frg. 359 PMG, assente todo ele numa tripla anáfora do nome do amado, em posição inicial: Por Cleobulo estou apaixonado, por Cleobulo estou louco de amor, para Cleobulo não me canso de olhar.1
Brincar com os sentimentos e com as palavras, tudo isso é possível e faz parte de um mesmo projecto poético, consciente, que ganha assim contornos de metatexto. Uma sinceridade artística que, verdade seja dita, dificilmente poderemos encontrar nos sessenta textos dos Anacreontea, simplesmente porque não pode a imitação equiparar-se à riqueza do objecto imitado. Quais os pilares dessa imitação poética, isso é o que buscaremos discutir de seguida. A forja literária e iconográfica de um novo modelo Parece ter razão Cícero ao afirmar que “toda a poesia de Anacreonte é amatória” (Tusculanas 4. 71), com isso demonstrando parcialmente a imagem do poeta na época romana. Juízo mais completo, no entanto, nos dá Ovídio (Tristia 2. 263), quando diz de Anacreonte que “muito vinho misturou com Vénus”, conciliando num mesmo sintagma os dois temas aos quais o tempo havia de reduzir a poética desse lírico, os mesmos que os autores dos Anacreontea, em exclusivo, se preocupariam em tratar: o amor e o vinho. Ateneu (3. 323) transmite-nos um epigrama de Crítias (Anacr., frg. 500 PMG), político e poeta do século V a.C., que resume já os tópicos poéticos que seriam tratados pelos imitadores de Anacreonte: ele é dito “a excitação dos banquetes”, “o que engana as mulheres”, “o amante da lira” e “o médico da dor”; também o vinho está presente, pela alusão às corridas dos criados que trazem esse líquido aos convivas, 1
Tradução de F. Lourenço 2006: 56. 14
uma imagem recorrente tanto nos fragmentos autênticos do poeta como nos Anacreontea. Uma poesia inspirada no amor e no vinho, cultivada por um poeta que a tradição pseudobiográfica cedo caracterizou como velho, contudo amável e doce, porque da doçura do amor todo ele foi banhado. Como o já referido Arquíloco ficaria associado à poesia invectiva, Safo com a erótica (no sentido literal do termo) ou Píndaro com a epinícia, Anacreonte passou a significar, por autonomásia, a poesia de banquete. Também as artes plásticas parecem cedo ter associado Anacreonte e a sua poesia aos temas do amor e do vinho, transformando-o no mais famoso e mais frequente poeta dos banquetes. Uma série de vasos gregos de figuras vermelhas representam-no caracterizado como um komastes, o líder volvido em ménade de um cortejo de celebrantes de Diónisos. Ora, esta cerâmica, pintada, alguma dela, pouco depois da morte de Anacreonte, circularia ao que tudo indica pelos banquetes mais importantes do mundo grego, os mesmos contextos onde também a sua poesia era repetida até à exaustão. Conservamos pelo menos dois fragmentos de um kalix krater de figuras vermelhas, do Pintor de Cleofrades, datado dos finais do século VI a.C. (Copenhagen NM 13365), onde se vê parte da figura de um komastes, com a cabeça voltada para trás, a cantar, usando um lenço na cabeça e envergando uma sombrinha, além de um braço de uma lira; inscrito a vermelho está o nome de Anacreonte. Esta é, de resto, a caracterização mais comum das cenas dionisíacas, na pintura de vasos, em que se julga ver a presença (ou pelo menos alusão) ao poeta1, que encontramos num outro vaso, uma ânfora de figuras vermelhas atribuída ao Pintor do Anjo Uma simples pesquisa online na base de dados de arte clássica, baptizada a partir de John Beazley, o maior estudioso de vasos gregos (http:// www.beazley.ox.ac.uk/) resultou em 61 registos de vasos com o que já recebeu a designação de “figuras anacreônticas”. 1
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Alado e datada dos inícios do século V a.C. (Louvre G220), peça sem o nome de Anacreonte inscrito mas que tem sido sucessivamente identificada como alusiva a ele. No que à estatuária diz respeito, além da única peça que, no sopé, tem inscrito o nome do poeta1, Pausânias (1.25.1) descreve, entre as muitas estátuas que viu na Acrópole de Atenas, uma de Anacreonte, nas suas palavras “o primeiro poeta depois de Safo de Lesbos a compor sobretudo canções de amor.” Mais, diz que “a sua postura é semelhante à de um homem que canta, embriagado.” E, na Antologia Palatina, um epigrama atribuído a Leónidas de Tarento (16. 306) alude a outra estátua do poeta, referindo o vinho, a sua idade avançada, a lira, Batilo e Megisto, Diónisos e Baco.2 Mudando de registo artístico, não menos curiosa é a ilustração de um mosaico recentemente encontrado em Autun (França), o conhecido “Mosaico dos autores gregos”, datado já do século II da nossa era, no qual um dos contemplados é Anacreonte, representado a tocar lira, sentado, de cabelos longos. Inscritos estão dois fragmentos tidos como autênticos (396 e 429 PMG), dois textos que seriam um intertexto fundamental para os poetas dos Anacreontea. É muito provável que este mosaico adornasse uma sala de banquetes. Pelo que ficou dito, percebemos facilmente como literatura e arte pictórica contribuíram ambas, num contínuo diálogo intersemiótico, para a construção de um novo modelo de poesia “à maneira de Anacreonte”, assente sobretudo nos temas do amor e do vinho. Um segundo modelo, diferente do original, que seria imitado pelos autores dos Anacreontea e, por meio destes, por um sem número de poetas, por toda a Europa, pelo menos até ao século XIX. Cópia em mármore de um original grego de meados do séc. V a.C., guardada no Museu Novo do Conservatório de Roma (inv. 838). 2 Também Teócrito (Antologia Palatina 9. 599) alude a uma estátua de Anacreonte, referindo apenas a quase proverbial homossexualidade do poeta. 1
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Os Anacreontea e o seu lugar na literatura europeia Com razão lamenta a Professora Maria Helena da Rocha Pereira (102006: 239-240), a propósito dos Anacreontea, a forma como eles “transformaram os modelos graciosos e cheios de frescura do poeta de Teos em poemetos amaneirados e insulsos e tiveram, entre outros inconvenientes, este muito grave, de obscurecer durante séculos a obra verdadeira, em proveito das suas imitações.” Mas tal afirmação autoriza-nos, por outro lado, a reconhecer a esses poemas uma importância inegável, precisamente por terem influenciado tantos artistas ao longo dos séculos. Afinal, qual a origem destes textos? Os sessenta poemas actualmente contemplados na edição de M. L. West foram pela primeira vez editados por Henri Étienne em Paris, em 1554, que os terá copiado, segundo ele próprio informa, de um “antigo manuscrito” que teria visto três anos antes em Lovaina. Tudo indica que o editor se referia a um códice do século X que continha a Antologia Palatina, dividido já em duas partes, a primeira contendo os livros 1-13 da Antologia e a segunda os livros 14 e 15, além dos Anacreontea e outros poemas dispersos1. A edição de Étienne teve diversas reedições, e só na reimpressão de 1560 foi introduzido o poema que actualmente ocupa o primeiro lugar, precisamente porque assassinava todas as pretensões de autenticidade dos poemas, ao descrever o episódio onírico em que o sujeito poético recebe das mãos do próprio Anacreonte as insígnias da sua poesia, qual poeta É quase novelesca a história deste manuscrito. Salmásio informa tê-lo visto na Biblioteca de Heidelberg em 1607 e, em 1623, quando essa cidade foi saqueada, foi oferecido ao Papa Gregório XV. Finalmente, em 1797, Napoleão tê-lo-á levado para Paris, cidade de onde nunca mais saiu o segundo volume, actualmente na Biblioteca Nacional (Cod. Paris. Suppl. gr. 384), sendo que o primeiro volume regressou a Heidelberg em 1815 (Cod. Heidlb. Bibl. Univ. Palat. 23). 1
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grego que encontra as Musas e, desde então, se transforma em inspirado e quase divino cantor. No entanto, durante cerca de três séculos após a primeira edição, foram diversos os autores a adoptar uma posição que simplesmente punha de parte a discussão da autoria dos poemas, ignorando por completo as questões temáticas, de linguagem e de prosódia que, sem margens para dúvidas, tornavam impossível que os textos fossem da lavra de Anacreonte. Só para dar um exemplo, para nós flagrante, A. F. Castilho, na sua versão para português, em edição bilingue, do que considera ser A Lyrica de Anacreonte (Paris, 1866), numa altura em que as dúvidas sobre a autenticidade dos poemas eram já certezas, não refere por uma única vez a questão e apresenta os textos como tudo quanto nos chegou do poeta de Teos. E vai mais longe, procedendo como Henri Étienne nas primeiras edições da obra: exclui, simplesmente, o poema inicial. No entanto, vozes minoritárias cedo começaram a pôr em causa a autoria dos poemas. Três anos apenas haviam passado sobre a edição de Étienne, e já Fr. Robortellus se referia à coleção como um conjunto de poemas “insulsos quosdam posterioris aeui antiquos”1. Estava assim aberta uma discussão que culminaria, regra geral, na negação da autoria de praticamente todos os poemas2. Com efeito, é hoje opinião unânime que todas as odes incluídas na edição de Étienne são apócrifas, à excepção talvez de alguns fragmentos que surgem depois da página 52 (páginas 166-167 deste volume). O estilo destes poemas, procurando imitar o de Anacreonte, resulta inevitavelmente mais simples, menos engenhoso e menos sincero, embora extremamente rico em Liber de arte s. ratione corrigendi antiquos (Patavia 1557) 26. Para uma visão resumida da polémica vide M. H. Rocha Pereira 1961: 18-19. 1 2
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termos de fluência e expressividade imagética. Trata-se de poesia experimental – assumidamente experimental, pelo menos ao tempo da sua composição –, de exercícios poéticos “à maneira de”um outro poeta de talento reconhecido. Mas neles vemos algumas das marcas estilísticas da pena do poeta de Teos, como sejam repetições ou anáforas (e.g. 8, 46), oximoros e tautologias (e.g. 2.6; 5.10-11; 32.22; 49. 1-2; 53.14), símiles e metáforas (e.g. 13.18-20; 32.7-8; 40.1-2; 50.16; 60.8), o recurso a um refrão (e.g. 50), combinado por vezes com a variatio (e.g. 9) e à técnica do catálogo (e.g. 4 (i) 8-11; 15.35-37); não lhe é também estranha a concepção de poesia como um jogo. São poucas as referências mitológicas mais complexas: apenas o poema 22 (Níobe e Filomela), o 54 (Europa) e o 60 (Apolo e Dafne) parecem desenvolver narrativas mitológicas, ainda que breves, que depois servirão de ponto de comparação com o próprio sentir do sujeito poético. Frequente é, pelo contrário, a presença de Diónisos, Afrodite e Eros, as divindades mais directamente relacionadas com as duas esferas com que se constroem os poemas (o vinho e o amor), além de imensas alusões tópicas. Não há sequer grande preocupação, da parte destes autores, em construir a ilusão de uma autoria ficcional, surgindo a figura de Anacreonte, em determinados momentos, na terceira pessoa (1, 15, 20, 60). Como se disse já, a inspiração em Anacreonte é, na colecção, mais evidente do que a ficcionalidade sua autoria, que encontramos, por exemplo, no texto 7. Referimos já o caso do primeiro poema, autêntica chave de ouro para o conjunto; mas também o texto com o número 60 volta a aludir ao poeta como modelo de poesia amorosa e de banquete (Anacreonte deves imitar,/ esse afamado cantor); Presente está também Batilo, o jovem amado da poesia de Anacreonte1, encarnando o ideal de paixão homoerótica. 1
Cf. Antologia de Planudes 306 e Anacr. fr. 471 PMG. 19
Outros temas merecem realce numa apreciação global dos Anacreontea, como sejam a rejeição programática da matéria épica, em prol de um novo canto centrado no amor e no prazer (2, 4, 23, 26) e a descrição de objectos de arte. Sobre este último, porque importante na colectânea, deter-nos-emos um pouco. A conciliação entre poesia e artes plásticas (sobretudo pintura e escultura, esta última incluindo, para o que nos importa, o trabalho sobre metal) marca presença clara nos Anacreontea, nos trilhos de um esforço poético a que fica bem a designação mais clássica de ekphrasis, ou seja, a descrição poético-narrativa de um objecto artístico com existência material real, ou pelo menos verosímil (e.g. 3, 4, 5, 16, 17, 54, 57). Transpondo a barreira da simples representação, o artifício retórico da ecfrase ganha dimensões criativas evidentes, porquanto a reprodução de uma obra de arte num outro código semiótico é, em si mesma, uma nova manifestação artística ou, se quisermos ser rigorosos, para-artística. Uma das particularidades da ecfrase nesta colectânea é que ele se assume, em rigor, como a representação de uma obra de arte en cours; dito de outro modo, parece que é superada a barreira temporal entre o objecto material e a sua representação poética, porquanto esta se apresenta em jeito de encomenda do primeiro. Ambos os trabalhos de forja, o do artista plástico e esse outro do poeta, ocorrem assim em simultâneo, construindo-se ambos, artefacto representado e poema que o representa, ao ritmo do artista que escreve. Uma referência, por breve que seja, merece a ainda acesa polémica da datação dos textos. À parte um ou outro texto que, referido por outros autores ou presente, com variações ligeiras, na Antologia Palatina ou na Antologia de Planudes, com isso consegue uma datação relativa (e.g. n. 4, que tem uma versão nas Noites Áticas de Aulo Gélio), poucas mais informações nos é 20
possível colher. Na tentativa de resolver esta polémica, uma série de critérios foram tidos em conta, ao longo dos tempos, como sejam a prosódia ou a semântica. No global, e sem espaço para entrar em detalhes, os estudiosos parecem concordar em datar os textos entre o séc. II a.C. e o séc. VI d.C., um lapso temporal vastíssimo que, inevitavelmente, se traduz em diferenças de estilo evidentes.1 A colectânea exerceu sem dúvida uma grande influência na lírica ocidental, sendo frequentes as imitações, traduções e recriações poéticas produzidas a partir dela por nomes como Ronsard, Goethe e Leopardi.2 Entre nós, imitaram Anacreonte, por intermédio desses outros poetas que o haviam já imitado, nomes tão conhecidos como os de António Ferreira – o introdutor dessa verdadeira moda em Portugal –, Bocage (Cançonetas Anacreônticas e Odes Anacreônticas), Marquesa de Alorna, José Agostinho Macedo (Lyra Anacreôntica, 1819), Elpino Duriense ou Almeida Garrett.3
1 Na prosódia se baseia M. L. West 1984 para a datação relativa dos poemas, na sua edição crítica do texto. Vide ainda o estudo de M. Brioso Sanchez (Salamanca 1970) e, para uma visão de conjunto das diferentes propostas avançadas, D. A. Campbell 1988: 10-18. 2 Sobre a influência dos Anacreontea na poesia europeia vide P. A. Rosenmeyer 1992, M. Baumann 1974 e L. A. Michelangeli 1922. 3 Sobre a recepção dos Anacreontea em Portugal, vide M. H. Rocha Pereira 1959-1960: 80-111 (= Lisboa, 1972: 37-76) e J. Ribeiro Ferreira 2003: 353-367.
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Notas sobre a presente edição O texto grego que reproduzimos procura ser o mais completo possível, deixando de parte questões de crítica textual e buscando ser útil a leitores e estudantes de língua e literatura gregas. Procurámos resolver os versos ou partes de texto duvidosos a partir das soluções apresentadas que nos pareceram mais coerentes, sendo esses passos indicados entre parênteses rectos. As reticências indicam lacunas textuais para as quais não foi avançada uma hipótese de preenchimento convincente. Cumpre-nos agradecer ao Prof. José Ribeiro Ferreira as preciosas sugestões que nos facultou, tanto contribuindo para a melhoria do ritmo e da expressividade da tradução. Ao Professor Frederico Lourenço, muito nos honrou a disponibilidade manifestada para a redacção do prefácio. Edições e traduções J. Barnes (ed.), Anacreon Teius… ad fidem etiam veteris MS (Londres 1705, repr. 1734, 1742). Th. Bergk (ed.), Anacreontis carminum reliquiae (Leipzig 1834). M. Brioso Sánchez (trad.), Anacreónticas: texto revisado y traducido (Madrid 1981). D. A. Campbell, Greek Lyric II (Cambridge, Massachusetts 1988). A. F. Castilho (trad.), A Lyrica de Anacreonte (Paris 1866). J. M. Edmonds, Elegy and Iambus … with the Anacreontea, vol. II (London, New York 1931). A. S. F. Gow, D. L. Page, The Greek Anthology: Helenistic epigrams (2 vols.) (Cambridge 1965). F. Lourenço, Poesia Grega de Álcman a Teócrito (Lisboa 2006). D. L. Page (ed.), Poetae Melici Graeci (Oxford 1962). [cit. PMG] M. H. Rocha Pereira, Hélade. Antologia da Cultura Grega (Coimbra 9 2005). M. L. West (ed.), Carmina Anacreontea (Leipzig 1984). _____, Iambi et Elegi Graeci ante Alexandri Cantati (Oxford 21998). 22
Estudos M. Baumann, Die Anakreonteen in englischen Übersetzungen (Heidelberg 1974). M. Brioso Sánchez, Anacreontea. Un ensayo para su datacion (Salamanca 1970). F. Budelmann, “Anacreon and the Anacreontea”, in F. Budelmann (ed.), The Cambridge Companion to Greek Lyric (Cambridge 2009) 227-239. A. Dihle, “The poem on the cicada”, HSCP 71 (1966) 107-113. L. A. Michelangeli, Anacreonte e la sua fortuna nei secoli (Bologna 1922). J. Ribeiro Ferreira, “As imitações e versões garrettianas de Anacreontea”, Almeida Garrett, um romântico, um moderno I (Lisboa 2003) 353-367. M. H. Rocha Pereira, Sobre a autenticidade do fragmento 44 Diehl de Anacreonte (Coimbra 1961). _____, “Alguns aspectos do classicismo de António Ferreira”, Humanitas 11-12 (1969-1960) 80-111. _____, Temas clássicos na poesia portuguesa (Lisboa 1972). _____, Estudos de História da Cultura Clássica. I - Cultura Grega (Lisboa 10 2006). P. A. Rosenmeyer, The Poetics of Imitation. Anacreon and the anacreontic tradition (Cambridge 1992). M. L. West, “Problems in the Anacreontea”, Classical Quarterly 34 (1984) 206-221. _____, “The Anacreontea”: O. Murray (ed.), Sympotica (Oxford 1990) 272-276.
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Frontespício da primeira versão latina, em Portugal, dos Anacreontea (1556), dois anos depois da editio princeps. 24
Anacreontea Poemas à maneira de Anacreonte
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1 Ἀνακρέων ἰδών με ὁ Τήϊος μελωιδός (ὄναρ λέγω) προσεῖπεν· κἀγὼ δραμὼν πρὸς αὐτόν περιπλάκην φιλήσας. γέρων μὲν ἦν, καλὸς δέ, καλὸς δὲ καὶ φίλευνος· τὸ χεῖλος ὦζεν οἴνου· τρέμοντα δ’ αὐτὸν ἤδη Ἔρως ἐχειραγώγει. ὃ δ’ ἐξελὼν καρήνου ἐμοὶ στέφος δίδωσι· τὸ δ’ ὦζ’ Ἀνακρέοντος. ἐγὼ δ’ ὁ μωρὸς ἄρας ἐδησάμην μετώπωι· καὶ δῆθεν ἄχρι καὶ νῦν ἔρωτος οὐ πέπαυμαι.
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1 Viu-me Anacreonte, o doce cantor de Teos, (um sonho conto) e me falou; Eu então, correndo para ele, abracei-o com ternura. Era já ancião, mas belo ainda, belo e ternurento; nos lábios odor a vinho; todo ele já tremores, Eros o levava pela mão. Ele, tirando da sua cabeça a coroa, a mim a ofertou: e cheirava a Anacreonte. Na minha loucura, ergui-a e ajustei-a à cabeça: desde então e até agora não mais me deixei de amores.
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2 Δότε μοι λύρην Ὁμήρου φονίης ἄνευθε χορδῆς· φέρε μοι κύπελλα θεσμῶν, φέρε μοι νόμους κεράσσας, μεθύων ὅπως χορεύσω, ὑπὸ σώφρονος δὲ λύσσης μετὰ βαρβίτων ἀείδων τὸ παροίνιον βοήσω· δότε μοι λύρην Ὁμήρου φονίης ἄνευθε χορδῆς.
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2 Dá-me a lira de Homero, mas sem a corda assassina. Traz-me taças de preceitos, traz-mas com leis misturadas, para que ébrio possa dançar, tomado por consciente loucura e, cantando ao som das liras, a canção de mesa eu entoe. Dá-me a lira de Homero, mas sem a corda assassina.
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3 Ἄγε, ζωγράφων ἄριστε, λυρικῆς ἄκουε Μούσης [……………………….. …………………………] γράφε τὰς πόλεις τὸ πρῶτον ἱλαράς τε καὶ γελώσας· ὁ δὲ κηρὸς ἂν δύναιτο, γράφε καὶ νόμους φιλούντων. φιλοπαίγμονες δὲ Βάκχαι ἑτεροπνόους ἐναύλους [......................................]
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3 Vamos, melhor dos pintores, escuta a Musa da poesia: [……………………….. …………………………] pinta as cidades primeiro, alegres e em gargalhadas. E se tanto suportar a cera, pinta os hábitos dos enamorados. Depois as joviais Bacantes com as flautas de dois tubos [......................................]
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4 (i) Τὸν ἄργυρον τορεύσας Ἥφαιστέ μοι ποίησον πανοπλίας μὲν οὐχί· τί γὰρ μάχαισι κἀμοί; ποτήριον δὲ κοῖλον ὅσον δύνηι βάθυνον. καὶ μὴ ποίει κατ’ αὐτό μήτ’ ἄστρα μήτ’ Ἀμάξας, [μὴ στυγνὸν Ὠρίωνα·] τί Πλειάδων μέλει μοι, τί δ’ ἀστέρος Βοώτεω; ποίησον ἀμπέλους μοι, καὶ βότρυας κατ’ αὐτῶν, [ποίει δὲ ληνὸν οἴνου,] καὶ χρυσέους πατοῦντας ὁμοῦ καλῶι Λυαίωι Ἔρωτα καὶ Βάθυλλον.
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4 (i)1 Trabalha a tua prata, Hefestos2, mas não me faças uma armadura jamais! Que me importam as batalhas? Antes uma taça vazia, a mais funda que puderes. E não ponhas, para mim, nem estrelas nem o Carro3, [sequer a brilhante Oríon.4] As Plêiades5 que me importam, ou o belo Lavrador6? Pôe-me antes umas vinhas, e cachos de uvas nos ramos. [Faz um lagar de vinho] e quem se alegre a pisá-lo, com o seu belo Lieu7, com Eros e Batilo.
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Fonte: Aulo Gélio 19. 9. 6. Hefestos, filho de Zeus e de Hera (o Vulcano na mitologia romana) era o deus grego do fogo, dos metais e da metalurgia. Foi responsável, entre outras obras, pela égide, escudo usado por Zeus na batalha contra os Titãs. A alusão, contudo, parece ser às armas que forjou para Aquiles (Ilíada 18. 478 sqq.). 3 A constelação da Ursa Maior. 4 Uma outra constelação. 5 Grupo de estrelas da constelação do Touro. 6 Outra constelação visível nos céus da Grécia. Toda esta enumeração faz lembrar essa outra do escudo de Aquiles na Ilíada (18. 485 sqq.). 7 Epíteto comum para Diónisos, o deus do vinho, uma presença frequente ao longo dos Anacreontea. 1 2
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4 (ii) Τὸν ἄργυρον τορεύσας Ἥφαιστέ μοι ποίησον πανοπλίαν μὲν οὐχί· ποτήριον δὲ κοῖλον ὅσον δύνηι βάθυνον. ποίει δέ μοι κατ’ αὐτοῦ μήτ’ ἄστρα μήτ’ Ἀμάξας, μὴ στυγνὸν Ὠρίωνα, ἀλλ’ ἀμπέλους χλοώσας καὶ βότρυας γελῶντας σὺν τῶι καλῶι Λυαίωι.
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4 (ii)1 Trabalha a tua prata, Hefestos, mas não me faças uma armadura jamais! Antes uma taça vazia, a mais funda que puderes. E não ponhas, para mim, nem estrelas nem o Carro, sequer a brilhante Oríon, mas vinhas de verde tenro e cachos entre risadas, na companhia do belo Lieu.
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1 Fonte: Antologia Palatina 11. 48. É provável que se trate da versão mais antiga do poema.
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4 (iii) Τὸν ἄργυρον τορεύων Ἥφαιστέ μοι ποίησον πανοπλίαν μὲν οὐχί· τί γὰρ μάχαισι κἀμοί; ποτήριον δὲ κοῖλον ὅσον δύνηι βαθύνας. ποίει δέ μοι κατ’ αὐτοῦ μήτ’ ἄστρα μήτ’ Ἄμαξαν, μὴ στυγνὸν Ὠρίωνα· τί Πλειάδων μέλει μοι, τί γὰρ καλοῦ Βοώτου; ποίησον ἀμπέλους μοι, καὶ βότρυας κατ’ αὐτῶν, καὶ Μαινάδας τρυγώσας· ποίει δὲ ληνὸν οἴνου ληνοβάτας πατοῦντας τοὺς Σατύρους γελῶντας καὶ χρυσέους Ἔρωτας καὶ Κυθέρην γελῶσαν ὁμοῦ καλῶι Λυαίωι. [Ἔρωτα κἀφροδίτην.]
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4 (iii)1 Trabalha a tua prata, Hefestos, mas não me faças uma armadura jamais! Que me importam as batalhas? Antes uma taça vazia, a mais funda que puderes. E não ponhas, para mim, nem estrelas nem o Carro, sequer a brilhante Oríon. As Plêiades que me importam, ou o belo Lavrador? Pôe-me antes umas vinhas, e cachos de uvas nos ramos, e Ménades a colhê-las. Faz um lagar de vinho e quem se alegre a pisá-lo, os Sátiros entre risadas, e Amores em ouro, e Citereia2 a rir com o seu belo Lieu, [Eros e Afrodite].
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1 Fonte: Cod. Paris. Suppl. gr. 384. 2 Segundo a tradição mais conhecida, depois do seu nascimento da espuma derramada no mar pelos genitais cortados de seu pai, Cronos, Afrodite foi transportada pelos ventos para a ilha de Citera, de onde recebeu o epíteto “Citereia” que, isolado, frequentemente a designa. 37
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5 Καλλιτέχνα, τόρευσον ἔαρος κύπελλον ἤδη· τὰ πρῶτ’ ἡμῖν τὰ τερπνά ῥόδα φέρουσαν ὥρην. ἀργύρεον δ’ ἁπλώσας ποτὸν ποίει μοι τερπνόν· τῶν τελετῶν, παραινῶ, μὴ ξένον μοι τορεύσηις, μὴ φευκτὸν ἱστόρημα· μᾶλλον ποίει Διὸς γόνον, Βάκχον Εὔιον ἡμῖν. μύστις νάματος ἦι Κύπρις ὑμεναίους κροτοῦσα· χάρασσ’ Ἔρωτας ἀνόπλους καὶ Χάριτας γελώσας ὑπ’ ἄμπελον εὐπέταλον εὐβότρυον κομῶσαν· σύναπτε κούρους εὐπρεπεῖς ἂν μὴ Φοῖβος ἀθύρηι.
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5 Hábil artesão, forja-me uma taça primaveril agora: As primeiras delícias, para nós, as rosas, no-las traz a estação. Martelando bem a prata, torna-me a bebida deliciosa. Quanto a ritos de festa, peço-te, nada estranho me forges, nem historieta que assuste. Faz antes o filho de Zeus, faz-nos Baco, o Évio1. Mistério da bebida, seja Cípris2 a marcar o ritmo dos himeneus. Grava os Amores sem armas e as Graças3 sorridentes, por baixo de vinha frondosa, adornada de muitos cachos. Acrescenta rapazes bonitões, a menos que lá brinque Febo4.
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Baco era outro nome para Diónisos, o deus do vinho e, por extensão, também do teatro. O epíteto “Évio” provém do grito que os celebrantes dos mistérios do deus entoariam (Evoé), como podemos ver nas Bacantes de Eurípides. 2 Outro epíteto para designar a deusa Afrodite, que depois da ilha de Citera foi levada para a de Chipre. 3 As três Graças (Eufrósina, Talia e Aglaia), filhas de Zeus, moram no Olimpo, na companhia das Musas, e integram o séquito de Apolo. São as divindades da beleza e de toda a manifestação artística, em especial da poesia. 4 Epíteto de Apolo, deus da música e da poesia. 1
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6 Στέφος πλέκων ποτ’ εὗρον ἐν τοῖς ῥόδοις Ἔρωτα, καὶ τῶν πτερῶν κατασχών ἐβάπτισ’ εἰς τὸν οἶνον, λαβὼν δ’ ἔπιον αὐτόν· καὶ νῦν ἔσω μελῶν μου πτεροῖσι γαργαλίζει.
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6 Uma coroa urdia em tempos, e encontrei, entre as rosas, Eros1. Logo o peguei pelas asas, mergulhei-o no vinho e de um trago o bebi. E agora, bem dentro de mim, com as asas me faz cócegas.
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Nos Anacreontea, Eros (o Cupido dos Romanos) é descrito como um deus menino alado, que fere de amor quem quer que se ponha no caminho das suas setas. Esta é imagem helenística do deus, ausente da pintura de vasos dos períodos arcaico e clássico. 1
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7 Λέγουσιν αἱ γυναῖκες· ’Ἀνάκρεον, γέρων εἶ· λαβὼν ἔσοπτρον ἄθρει κόμας μὲν οὐκέτ’ οὔσας, ψιλὸν δέ σευ μέτωπον.’ ἐγὼ δὲ τὰς κόμας μέν, εἴτ’ εἰσὶν εἴτ’ ἀπῆλθον, οὐκ οἶδα· τοῦτο δ’ οἶδα, ὡς τῶι γέροντι μᾶλλον πρέπει τὸ τερπνὰ παίζειν, ὅσωι πέλας τὰ Μοίρης.
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7 Dizem as mulheres: “Anacreonte, és velho! Pega num espelho e repara: já não tens o teu cabelo, a tua cabeça está careca.” Por mim, se o meu cabelo ainda está cá ou já se foi, não sei; mas sei o seguinte: que ao velho mais importa gozar o encanto da vida, quando está perto o Destino.
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8 Οὔ μοι μέλει τὰ Γύγεω τοῦ Σαρδίων ἄνακτος, οὐδ’ εἷλέ πώ με ζῆλος, οὐδὲ φθονῶ τυράννοις. ἐμοὶ μέλει μύροισιν καταβρέχειν ὑπήνην, ἐμοὶ μέλει ῥόδοισιν καταστέφειν κάρηνα· τὸ σήμερον μέλει μοι, τὸ δ’ αὔριον τίς οἶδεν; ὡς οὖν ἔτ’ εὔδι’ ἔστιν, καὶ πῖνε καὶ κύβευε καὶ σπένδε τῶι Λυαίωι, μὴ νοῦσος ἤν τις ἔλθηι λέγηι σε μηδὲ πίνειν.
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8 Não me importa o de Giges, de Sardes o soberano: nunca dele fui zeloso ou tenho inveja aos tiranos1. Importa-me com perfumes ungir a minha barba, importa-me com rosas coroar a minha fronte. O dia de hoje me importa, o amanhã, quem o conhece? Ora, enquanto há bonança, é beber e jogar aos dados e fazer libações a Lieu, não vá que chegue a doença e te diga para não mais beber.
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Estes primeiros versos recuperam um tema caro à poesia lírica grega, a recusa da ambição. Seguem de perto, por exemplo, o fragmento 19 West de Arquíloco. O próprio Anacreonte tratou o mesmo tema no fragmento 361 PMG. 1
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9 Ἄφες με, τοὺς θεούς σοι, πιεῖν, πιεῖν ἀμυστί· θέλω, θέλω μανῆναι. ἐμαίνετ’ Ἀλκμέων τε χὠ λευκόπους Ὀρέστης τὰς μητέρας κτανόντες· ἐγὼ δὲ μηδένα κτάς, πιὼν δ’ ἐρυθρὸν οἶνον θέλω, θέλω μανῆναι. ἐμαίνετ’ Ἡρακλῆς πρίν, δεινὴν κλονῶν φαρέτρην καὶ τόξον Ἰφίτειον· ἐμαίνετο πρὶν Αἴας, μετ’ ἀσπίδος κραδαίνων τὴν Ἕκτορος μάχαιραν· ἐγὼ δ’ ἔχων κύπελλον καὶ στέμμα τοῦτο χαίτης [οὐ τόξον, οὐ μάχαιραν,] θέλω, θέλω μανῆναι.
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9 Deixa, pelos deuses te imploro, que eu beba, beba sem parar! Quero, quero enlouquecer! Enlouqueceram Alcméon1 e Orestes de brancos pés2 por às mães darem morte. Mas eu não matei ninguém, e é a beber o vinho rubro que quero, quero enlouquecer! Enlouqueceu um dia Héracles, brandindo a terrível aljava e o arco de Ífito3. Enlouqueceu um dia Ájax, agitando sobre seu escudo a espada de Heitor4. Quanto a mim, com esta taça e esta grinalda no cabelo, [sem arco e sem espada,] quero, quero enlouquecer!
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1 Um dos Epígonos, os filhos dos sete generais que tombaram às portas de Tebas, sob o comando de Adrasto. Um oráculo predisse-lhe que teria de matar a própria mãe, Erífile, após o que, como aconteceu também a Orestes, filho de Agamémnon e Clitemnestra, foi perseguido pelas Erínias. Ambos os matricídios tinham por objectivo vingar a morte do pai. 2 O epíteto quer provavelmente significar “de pés descalços”. 3 Héracles, enlouquecido pelos deuses, matou Ífito e, com o seu arco, matou depois a esposa Mégara e os filhos. 4 O escudo de Ájax ficou famoso na Antiguidade (cf. Ilíada 7. 219). O herói, depois de lutar contra Heitor, que lhe deu a sua espada, enlouqueceu por as armas de Aquiles terem sido concedidas a Ulisses.
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10 Τί σοι θέλεις ποιήσω, τί σοι, λάλη χελιδόν; τὰ ταρσά σευ τὰ κοῦφα θέλεις λαβὼν ψαλίξω, ἢ μᾶλλον ἔνδοθέν σευ τὴν γλῶσσαν, ὡς ὁ Τηρεύς ἐκεῖνος, ἐκθερίξω; τί μευ καλῶν ὀνείρων ὑπορθρίαισι φωναῖς ἀφήρπασας Βάθυλλον;
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10 A ti, que queres que te faça, a ti, andorinha chilreante? As tuas débeis asas, queres que as tome e arranque? Ou preferes que na boca a língua, como fez Tereu1, esse malvado, eu te corte? Porquê, chamando-o dos meus sonhos com teus cantos matinais, me foste tu roubar Batilo?
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Tereu cortou a língua de Filomela, sua cunhada, para que esta não contasse a ninguém que por ele tinha sido violada. Mais tarde, a donzela transformou-se em andorinha. 1
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11 Ἔρωτα κήρινόν τις νεηνίης ἐπώλει· ἐγὼ δέ οἱ παραστάς ’πόσου θέλεις’ ἔφην ‘σοι τὸ τυχθὲν ἐκπρίωμαι;’ ὃ δ’ εἶπε δωριάζων ’λάβ’ αὐτὸν ὁππόσου λῆις. ὅπως δ’ ἂν ἐκμάθηις πᾶν, οὐκ εἰμὶ κηροτέχνας, ἀλλ’ οὐ θέλω συνοικεῖν Ἔρωτι παντορέκται.’ ’δὸς οὖν, δὸς αὐτὸν ἡμῖν δραχμῆς, καλὸν σύνευνον.’ Ἔρως, σὺ δ’ εὐθέως με πύρωσον· εἰ δὲ μή, σύ κατὰ φλογὸς τακήσηι.
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11 Um Eros de cera certo moço estava a vender. Eu, parando a seu lado, lhe perguntei: “quanto queres pela tua obra de arte?” Responde-me ele em dórico: “Leva-o por quanto quiseres! E para tudo ficares a saber, não sou escultor de cera, apenas não quero conviver com um Eros tão atrevido.” “Dá-mo, dá-mo por uma dracma, esse belo companheiro de leito.” E tu Eros, sem demora, abrasa-me; senão, tu mesmo hás-de derreter nas chamas.
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12 Οἱ μὲν καλὴν Κυβήβην τὸν ἡμίθηλυν Ἄττιν ἐν οὔρεσιν βοῶντα λέγουσιν ἐκμανῆναι· οἱ δὲ Κλάρου παρ’ ὄχθαις δαφνηφόροιο Φοίβου λάλον πιόντες ὕδωρ μεμηνότες βοῶσιν· ἐγὼ δὲ τοῦ Λυαίου καὶ τοῦ μύρου κορεσθείς καὶ τῆς ἐμῆς ἑταίρης θέλω, θέλω μανῆναι.
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12 Quando pela bela Cibele Átis, de aspecto feminil1, nas montanhas gritava, dizem uns que enlouqueceu. Outros, nas colinas de Claro2, morada de Febo, coroado de louro, quando bebem a água loquaz, enlouquecidos se põem a gritar. Quanto a mim, de Lieu e de perfume saciado, e ainda da minha amante, quero, quero enlouquecer.
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Átis, um hermafrodita devoto de Cibele, castrou-se a si próprio ao cabo de um ritual orgiástico, por vergonha. 2 Perto de Cólofon, na Ásia Menor. Aí se situava um oráculo de Apolo. 1
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13 [Θέλω, θέλω φιλῆσαι.] Ἔπειθ’ Ἔρως φιλεῖν με· ἐγὼ δ’ ἔχων νόημα ἄβουλον οὐκ ἐπείσθην. ὃ δ’ εὐθὺ τόξον ἄρας καὶ χρυσέην φαρέτρην μάχηι με προυκαλεῖτο· κἀγὼ λαβὼν ἐπ’ ὤμων θώρηχ’ ὅπως Ἀχιλλεύς καὶ δοῦρα καὶ βοείην ἐμαρνάμην Ἔρωτι. ἔβαλλ’, ἐγὼ δ’ ἔφευγον· ὡς δ’ οὐκέτ’ εἶχ’ ὀιστούς, ἤσχαλλεν, εἶτ’ ἑαυτόν ἀφῆκεν εἰς βέλεμνον· μέσος δὲ καρδίης μευ ἔδυνε καί μ’ ἔλυσεν. μάτην δ’ ἔχω βοείην· τί γὰρ βάλωμεν ἔξω, μάχης ἔσω μ’ ἐχούσης;
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13 [Eu quero, quero amar!] Disse-me Eros que amasse; mas eu, na minha loucura, não me deixei convencer. E logo, sacando do arco e da aljava dourada, para o combate me desafiava. Eu então, pondo aos ombros a couraça, como Aquiles, na lança e no escudo pegando, pus-me a lutar com Eros. Ele atacava e eu fugia. Quando já não tinha dardos, irritou-se e logo a si mesmo se disparou numa seta; o centro do coração me perfurou e fez-me perder. De nada vale o meu escudo: de que serve disparar por fora, se a luta por dentro me domina?
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14 Εἰ φύλλα πάντα δένδρων ἐπίστασαι κατειπεῖν, εἰ κύματ’ οἶδας εὑρεῖν τὰ τῆς ὅλης θαλάσσης, σὲ τῶν ἐμῶν ἐρώτων μόνον ποῶ λογιστήν. πρῶτον μὲν ἐξ Ἀθηνῶν ἔρωτας εἴκοσιν θές καὶ πεντεκαίδεκ’ ἄλλους. ἔπειτα δ’ ἐκ Κορίνθου θὲς ὁρμαθοὺς ἐρώτων· Ἀχαΐης γάρ ἐστιν, ὅπου καλαὶ γυναῖκες. τίθει δὲ Λεσβίους μοι καὶ μέχρι τῶν Ἰώνων καὶ Καρίης Ῥόδου τε δισχιλίους ἔρωτας. τί φήις; ἄγει καρωθείς; οὔπω Σύρους ἔλεξα, οὔπω πόθους Κανώβου, οὐ τῆς ἅπαντ’ ἐχούσης Κρήτης, ὅπου πόλεσσιν Ἔρως ἐποργιάζει. τί δ’ οὐ θέλεις ἀριθμεῖν καὶ τοὺς Γαδείρων ἐκτός, τῶν Βακτρίων τε κἰνδῶν ψυχῆς ἐμῆς ἔρωτας;
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14 Se as folhas todas das árvores fores capaz de contar, se as ondas souberes desvendar, as do mar inteiro, a ti, dos meus amores farei o único curador. Primeiro, dos de Atenas, anota vinte amores e mais outros quinze. Em seguida, de Corinto, anota uma fiada de amores. Há também a Acaia, onde são belas as mulheres. Acrescenta os de Lesbos e ainda os da Iónia da Cária e de Rodes, dois milhares de amores. Que dizes? Vence-te o cansaço? E nem mencionei os da Síria, nem as paixões de Canobo nem as da terra que tudo tem, Creta, em cujas cidades Eros celebra os seus mistérios. E por que recusas contar os que ficam além de Gádira1, os da Báctria e os da Índia, os amores do meu coração? 1
Na Hispânia, actual zona de Cádis. 57
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15 Ἐρασμίη πέλεια, πόθεν, πόθεν πέτασαι; πόθεν μύρων τοσούτων ἐπ’ ἠέρος θέουσα πνέεις τε καὶ ψεκάζεις; τίς εἶ, τί σοι μέλει δέ; ’Ἀνακρέων μ’ ἔπεμψε πρὸς παῖδα, πρὸς Βάθυλλον τὸν ἄρτι τῶν ἁπάντων κρατοῦντα καὶ τυράννων. πέπρακέ μ’ ἡ Κυθήρη λαβοῦσα μικρὸν ὕμνον ἐγὼ δ’ Ἀνακρέοντι διακονῶ τοσαῦτα· καὶ νῦν, ὁρᾶις, ἐκείνου ἐπιστολὰς κομίζω. καί φησιν εὐθέως με ἐλευθέρην ποιήσειν· ἐγὼ δέ, κἢν ἀφῆι με, δούλη μενῶ παρ’ αὐτῶι.
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15 Graciosa pomba, de onde, de onde esvoaças? De onde tantos perfumes a espalhar pela brisa, tu exalas e propagas? Quem és? Que pretendes afinal? “Anacreonte me mandou para um moço, para Batilo, que agora sobre todos governa, mesmo os tiranos. Vendeu-me Citereia, em troca de uma cançoneta, e eu, é a Anacreonte que presto estes serviços. E agora, como vês, dele transporto as missivas. Dizem mesmo que não tarda em me dar a liberdade. Mas eu, ainda que me liberte, escrava me vou manter a seu lado.
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τί γάρ με δεῖ πέτασθαι ὄρη τε καὶ κατ’ ἀγρούς καὶ δένδρεσιν καθίζειν φαγοῦσαν ἄγριόν τι; τὰ νῦν ἔδω μὲν ἄρτον ἀφαρπάσασα χειρῶν Ἀνακρέοντος αὐτοῦ, πιεῖν δέ μοι δίδωσι τὸν οἶνον ὃν προπίνει, πιοῦσα δ’ ἀγχορεύω καὶ δεσπότην κρέκοντα πτεροῖσι συγκαλύπτω· κοιμωμένου δ’ ἐπ’ αὐτῶι τῶι βαρβίτωι καθεύδω. ἔχεις ἅπαντ’· ἄπελθε· λαλιστέραν μ’ ἔθηκας, ἄνθρωπε, καὶ κορώνης.’
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Que me importa esvoaçar por montanhas e prados e sobre as árvores pousar para comer algo selvagem? Neste momento, como o pão que debico das mãos do próprio Anacreonte. Para beber, oferece-me ele do vinho que antes bebeu; e depois de beber começo a dançar, e ao meu senhor, enquanto toca lira, com as minhas asas lhe faço sombra; quando vai para a cama, é na própria lira1 que me deito. Sabes já de tudo. Desaparece! Mais palradora me tornaste, amigo, que um corvo dos mares.”
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À letra, o instrumento que está em causa é o barbiton, diferente da lira e da cítara. Por uma questão de coloquialidade, traduzimos sempre por “lira”, pois que o(s) próprio(s) autor(es) dos poemas não parecem fazer distinção entre os três instrumentos, como parece também denunciar o texto 60. 1
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16 Ἄγε, ζωγράφων ἄριστε, [γράφε, ζωγράφων ἄριστε,] Ῥοδίης κοίρανε τέχνης, ἀπεοῦσαν, ὡς ἂν εἴπω, γράφε τὴν ἐμὴν ἑταίρην. γράφε μοι τρίχας τὸ πρῶτον ἁπαλάς τε καὶ μελαίνας· ὁ δὲ κηρὸς ἂν δύνηται, γράφε καὶ μύρου πνεούσας. γράφε δ’ ἐξ ὅλης παρειῆς ὑπὸ πορφυραῖσι χαίταις ἐλεφάντινον μέτωπον. τὸ μεσόφρυον δὲ μή μοι διάκοπτε μήτε μίσγε, ἐχέτω δ’, ὅπως ἐκείνη, τὸ λεληθότως σύνοφρυν βλεφάρων ἴτυν κελαινήν. τὸ δὲ βλέμμα νῦν ἀληθῶς ἀπὸ τοῦ πυρὸς ποίησον, ἅμα γλαυκὸν ὡς Ἀθήνης, ἅμα δ’ ὑγρὸν ὡς Κυθήρης.
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16 Vá, melhor dos pintores! [Pinta, melhor dos pintores,] senhor da arte de Rodes, a ausente, como te digo, pinta lá a minha amada! Pinta primeiro o cabelo, sedoso e negro. E se a cera o consentir, pinta-o com cheiro a perfume. E pinta, de toda a face, sob inflamadas melenas, a sua testa de marfim. As suas sobrancelhas, não as cortes a meio nem as unas, antes conserva, tal qual é, imperceptível o encontro da negra moldura das pálpebras. Os seus olhos, como são, de fogo deves fazê-los, ambos brilhantes como os de Atena, ambos molhados como os de Citereia.
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γράφε ῥῖνα καὶ παρειάς ῥόδα τῶι γάλακτι μίξας· γράφε χεῖλος οἷα Πειθοῦς, προκαλούμενον φίλημα. τρυφεροῦ δ’ ἔσω γενείου περὶ λυγδίνωι τραχήλωι Χάριτες πέτοιντο πᾶσαι. στόλισον τὸ λοιπὸν αὐτήν ὑποπορφύροισι πέπλοις, διαφαινέτω δὲ σαρκῶν ὀλίγον, τὸ σῶμ’ ἐλέγχον. ἀπέχει· βλέπω γὰρ αὐτήν· τάχα κηρὲ καὶ λαλήσεις.
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Pinta o nariz e as maçãs do rosto, onde rosas e leite se misturam. Pinta os lábios como os de Persuasão, um beijo provocante. Sob o queixo delicado, à volta do pescoço de mármore, esvoacem todas as Graças. Veste enfim o resto dela com peplos tingidos de púrpura, que se mostre da sua pele uma nesga, amostra do seu corpo. Basta! Já a vislumbro! Em breve, cera, hás-de até falar.
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17 Γράφε μοι Βάθυλλον οὕτω τὸν ἑταῖρον ὡς διδάσκω· λιπαρὰς κόμας ποίησον, τὰ μὲν ἔνδοθεν μελαίνας, τὰ δ’ ἐς ἄκρον ἡλιώσας· ἕλικας δ’ ἐλευθέρους μοι πλοκάμων ἄτακτα συνθείς ἄφες ὡς θέλωσι κεῖσθαι. ἁπαλὸν δὲ καὶ δροσῶδες στεφέτω μέτωπον ὀφρῦς κυανωτέρη δρακόντων. μέλαν ὄμμα γοργὸν ἔστω, κεκερασμένον γαλήνηι, τὸ μὲν ἐξ Ἄρηος ἕλκον, τὸ δὲ τῆς καλῆς Κυθήρης, ἵνα τις τὸ μὲν φοβῆται, τὸ δ’ ἀπ’ ἐλπίδος κρεμᾶται. ῥοδέην δ’ ὁποῖα μῆλον χνοΐην ποίει παρειήν· ἐρύθημα δ’ ὡς ἂν Αἰδοῦς δύνασαι βαλεῖν ποίησον. τὸ δὲ χεῖλος οὐκέτ’ οἶδα τίνι μοι τρόπωι ποιήσεις ἁπαλόν, γέμον τε Πειθοῦς·
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17 Pinta-me esse Batilo, assim, o meu amado, como te digo! Faz a sua cabeleira brilhante, escura no interior e nas extremidades tisnada pelo sol; libertos os caracóis das madeixas, postos em desordem, consente que caiam como desejam. Que a sua testa, pura e orvalhada, seja coroada por sobrancelhas mais negras do que as serpentes. Seja o seu negro olhar uma mistura de força e serenidade: aquela colhida de Ares1, esta da bela Citereia, para que uma alguém receie, e a outra mantenha a esperança. Vermelha, como uma maçã, faz-lhe a bochecha; e um rubor, como se o Pudor fosses capaz de atingir, acrescenta-lhe. Os lábios, não sei ainda de que forma deves fazê-los, suaves, carregados de Persuasão;
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Deus grego da guerra. 67
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τὸ δὲ πᾶν ὁ κηρὸς αὐτός ἐχέτω λαλῶν σιωπῆι. μετὰ δὲ πρόσωπον ἔστω τὸν Ἀδώνιδος παρελθών ἐλεφάντινος τράχηλος. μεταμάζιον δὲ ποίει διδύμας τε χεῖρας Ἑρμοῦ, Πολυδεύκεος δὲ μηρούς, Διονυσίην δὲ νηδύν· ἁπαλῶν δ’ ὕπερθε μηρῶν, μαλερὸν τὸ πῦρ ἐχόντων, ἀφελῆ ποίησον αἰδῶ Παφίην θέλουσαν ἤδη. φθονερὴν ἔχεις δὲ τέχνην, ὅτι μὴ τὰ νῶτα δεῖξαι δύνασαι· τὰ δ’ ἦν ἀμείνω. τί με δεῖ πόδας διδάσκειν· λάβε μισθὸν ὅσσον εἴπηις, τὸν Ἀπόλλωνα δὲ τοῦτον καθελὼν ποίει Βάθυλλον· ἢν δ’ ἐς Σάμον ποτ’ ἔλθηις, γράφε Φοῖβον ἐκ Βαθύλλου.
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tudo isso, a própria cera comporte, gritando silenciosa. Depois da face, faz-lhe, semelhante ao de Adónis, um pescoço de marfim; faz-lhe também um peito de Hermes e as duas mãos, as coxas de Polideuces e os abdominais de Diónisos.1 Por cima das delicadas coxas, detentoras do ímpeto do fogo, faz-lhe a modesta vergonha que já desejava a deusa de Pafos.2 Invejável é a arte que possuis, pois as suas costas não te é dado mostrar; melhor fora! Que me importa descrever os seus pés? Toma o teu pagamento, quanto pediste, e o Apolo que aqui tens leva-o de volta e faz-me Batilo! E se alguma vez fores a Samos, pinta Febo a partir do meu Batilo.
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1 Adónis era o modelo literário de beleza masculina; Hermes do corpo musculado, sobretudo para os escultores; Polideuces um lendário lutador de boxe; Diónisos, na arte helenística, era também representado como um deus jovem e belo. 2 Perto da ilha de Pafos nasceu Afrodite, da espuma que no mar libertaram os testículos cortados de seu pai Cronos.
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18 Δότε μοι, δότ’ ὦ γυναῖκες Βρομίου πιεῖν ἀμυστί· ἀπὸ καύματος γὰρ ἤδη προδοθεὶς ἀναστενάζω· δότε δ’ ἀνθέων, ἑλίνου· στεφάνους δότ’ οἷς πυκάζω τὰ μέτωπά μου, ‘πικαίει. τὸ δὲ καῦμα τῶν ἐρώτων, κραδίη, τίνι σκεπάζω; παρὰ τὴν σκιὴν Βαθύλλου καθίσω· καλὸν τὸ δένδρον, ἁπαλὰς δ’ ἔσεισε χαίτας μαλακωτάτωι κλαδίσκωι· παρὰ δ’ αὐτὸ νέρθε ῥοιζεῖ πηγὴ ῥέουσα Πειθοῦς. τίς ἂν οὖν ὁρῶν παρέλθοι καταγώγιον τοιοῦτο;
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18 Dai-me, dai-me ó mulheres, Brómio1 para beber de um trago! Pois no fogo, daqui em diante, traído, me esvaio em gemidos. Dai-me flores, dai-me parreiras! Dai-me grinaldas com que enfeite a minha fronte que queima. Mas da chama dos amores, meu coração, como defender-me? Junto à sombra de Batilo me sentarei; essa bela árvore os suaves cabelos sacode na suprema doçura dos ramos. E perto, por baixo, balbucia a fonte corrente da Persuasão. Quem, ao vê-lo, passaria ao lado de semelhante local de repouso?
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1 Brómio é um dos epítetos de Diónisos, querendo neste passo significar o vinho, atributo maior desse deus.
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Αἱ Μοῦσαι τὸν Ἔρωτα δήσασαι στεφάνοισι τῶι Κάλλει παρέδωκαν· καὶ νῦν ἡ Κυθέρεια ζητεῖ λύτρα φέρουσα λύσασθαι τὸν Ἔρωτα. κἂν λύσηι δέ τις αὐτόν, οὐκ ἔξεισι, μενεῖ δέ· δουλεύειν δεδίδακται.
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19 As Musas Eros cingiram de grinaldas e à Beleza o entregaram. E agora Citereia, de posse do resgate, busca dar liberdade a Eros. Mas ainda que se liberte, não partirá, antes vai ficar: é que aprendeu a ser escravo.
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Ἡδυμελὴς Ἀνακρέων, ἡδυμελὴς δὲ Σαπφώ· Πινδαρικὸν δ’ ἔτι μοι μέλος συγκεράσας τις ἐγχέοι. τὰ τρία ταῦτά μοι δοκεῖ καὶ Διόνυσος ἐλθών καὶ Παφίη λιπαρόχροος καὐτὸς Ἔρως ἂν ἐκπιεῖν.
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20 Doce cantor é Anacreonte, doce cantora é também Safo; com um poema de Píndaro1 alguém mos misture numa taça. Esse triplo cocktail, estou em crer, viesse Diónisos em pessoa, a deusa de Pafos de pele brilhante ou o próprio Eros, todos o beberiam.
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1 Os três modelos de poesia: Anacreonte (poesia de banquete), Safo (poesia erótica) e Píndaro (poesia epinícia).
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21 Ἡ γῆ μέλαινα πίνει, πίνει δένδρεα δ’ αὖ γῆν πίνει θάλασσ’ ἀναύρους, ὁ δ’ ἥλιος θάλασσαν, τὸν δ’ ἥλιον σελήνη· τί μοι μάχεσθ’, ἑταῖροι, καὐτῶι θέλοντι πίνειν;
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21 A terra negra bebe, bebem as árvores da terra, bebe o mar das correntes, o sol do mar e do sol a lua. Porquê lutar comigo, amigos, se também eu quero beber?
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Ἡ Ταντάλου ποτ’ ἔστη λίθος Φρυγῶν ἐν ὄχθαις, καὶ παῖς ποτ’ ὄρνις ἔπτη Πανδίονος χελιδών. ἐγὼ δ’ ἔσοπτρον εἴην, ὅπως ἀεὶ βλέπηις με· ἐγὼ χιτὼν γενοίμην, ὅπως ἀεὶ φορῆις με. ὕδωρ θέλω γενέσθαι, ὅπως σε χρῶτα λούσω· μύρον, γύναι, γενοίμην, ὅπως ἐγώ σ’ ἀλείψω. καὶ ταινίη δὲ μασθῶι καὶ μάργαρον τραχήλωι καὶ σάνδαλον γενοίμην· μόνον ποσὶν πάτει με.
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22 A filha de Tântalo1, certaz vez, rocha se volveu nos montes da Frígia, e ave voou, em tempos, a filha de Pandíon2, uma andorinha. Quem me dera ser um espelho, para sempre olhares para mim! Quisera eu ser uma túnica, para sempre me levares vestido! Em água quero volver-me para o teu corpo banhar! Perfume, mulher, quisera eu ser, para eu próprio te ungir. E sutiã para os teus seios, e pérola para o teu pescoço e sandália, quisera eu ser: só teus pés me podem pisar.
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Níobe. Filomela. Vide supra, poema 10 (e nota ad loc.). 79
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23 Θέλω λέγειν Ἀτρείδας, θέλω δὲ Κάδμον ἄιδειν, ὁ βάρβιτος δὲ χορδαῖς ἔρωτα μοῦνον ἠχεῖ. ἤμειψα νεῦρα πρώην καὶ τὴν λύρην ἅπασαν· κἀγὼ μὲν ἦιδον ἄθλους Ἡρακλέους, λύρη δέ ἔρωτας ἀντεφώνει. χαίροιτε λοιπὸν ἡμῖν, ἥρωες· ἡ λύρη γάρ μόνους ἔρωτας ἄιδει.
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23 Quero falar dos Atridas, quero acerca de Cadmo cantar, mas a lira, nas cordas, amor apenas contém. Troquei as cordas no outro dia e a lira por inteiro: comecei a cantar os trabalhos de Héracles1, mas a lira com amores me respondeu. Alegrai-vos então comigo, heróis: é que minha lira apenas amores canta.
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Os Atridas (Gregos), os Cadmeus e os feitos de Héracles, todos eram temas de epopeias na Antiguidade. Está em causa o tópico comum da recusa do canto épico, em prol de um novo canto, assente no amor. 1
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24 Φύσις κέρατα ταύροις, ὁπλὰς δ’ ἔδωκεν ἵπποις, ποδωκίην λαγωοῖς, λέουσι χάσμ’ ὀδόντων, τοῖς ἰχθύσιν τὸ νηκτόν, τοῖς ὀρνέοις πέτασθαι, τοῖς ἀνδράσιν φρόνημα· γυναιξὶν οὐκέτ’ εἶχεν. τί οὖν; δίδωσι κάλλος ἀντ’ ἀσπίδων ἁπασῶν, ἀντ’ ἐγχέων ἁπάντων· νικᾶι δὲ καὶ σίδηρον καὶ πῦρ καλή τις οὖσα.
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24 A Natureza chifres aos touros deu e cascos aos cavalos, agilidade de pés às lebres, aos leões uma boca com dentes, aos peixes a aptidão de nadar, às aves a capacidade de voar e aos homens a inteligência: para as mulheres nada restava. Que fazer? Deu-lhes a beleza em vez de todos os escudos, em vez de todas as espadas. E vence mesmo sobre o ferro e o fogo a mulher que seja bela.
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25 Σὺ μέν, φίλη χελιδόν, ἐτησίη μολοῦσα θέρει πλέκεις καλιήν, χειμῶνι δ’ εἶς ἄφαντος ἢ Νεῖλον ἢ ‘πὶ Μέμφιν· Ἔρως δ’ ἀεὶ πλέκει μευ ἐν καρδίηι καλιήν. Πόθος δ’ ὃ μὲν πτεροῦται, ὃ δ’ ὠιόν ἐστιν ἀκμήν, ὃ δ’ ἡμίλεπτος ἤδη· βοὴ δὲ γίνετ’ ἀεί κεχηνότων νεοττῶν· Ἐρωτιδεῖς δὲ μικρούς οἱ μείζονες τρέφουσιν· οἳ δὲ τραφέντες εὐθύς πάλιν κύουσιν ἄλλους. τί μῆχος οὖν γένηται; οὐ γὰρ σθένω τοσούτους Ἔρωτας ἐκσοβῆσαι.
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25 Tu, graciosa andorinha, regressando a cada ano, no Verão teces o ninho e no Inverno retornas ao Nilo e à a pura Mênfis; já Eros, sempre está tecendo em meu coração o ninho. Um Desejo ganha asas, outro é um ovo maduro, outro está já meio descascado. Continuamente se ouve o grito dos pintainhos de bico aberto; os Amores pequeninos, alimentam-nos os maiores; e criados que sejam esses, de novo se geram outros. Que remédio posso eu ter? Não me é dada a coragem para tais Amores espantar.
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26 Σὺ μὲν λέγεις τὰ Θήβης, ὃ δ’ αὖ Φρυγῶν ἀυτάς, ἐγὼ δ’ ἐμὰς ἁλώσεις. οὐχ ἵππος ὤλεσέν με, οὐ πεζός, οὐχὶ νῆες, στρατὸς δὲ καινὸς ἄλλος ἀπ’ ὀμμάτων με βάλλων.
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26 Tu contas os feitos de Tebas, outro conta os da Frígia, e eu conto o meu cativeiro. Nem cavalo me destruiu, nem infantaria, nem navios, antes um exército bem distinto os meus olhos tomou de assalto.
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Ἐν ἰσχίοις μὲν ἵπποι πυρὸς χάραγμ’ ἔχουσιν· καὶ Παρθίους τις ἄνδρας ἐγνώρισεν τιάραις· ἐγὼ δὲ τοὺς ἐρῶντας ἰδὼν ἐπίσταμ’ εὐθύς· ἔχουσι γάρ τι λεπτόν ψυχῆς ἔσω χάραγμα.
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27 Nos quadris os cavalos levam a marca do fogo, e os homens de Partos conhecem-se pelas tiaras. Mas eu, aos apaixonados, ao vê-los logo os reconheço: levam uma certa e delicada marca no fundo da alma.
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28 Ὁ ἀνὴρ ὁ τῆς Κυθήρης παρὰ Λημνίαις καμίνοις τὰ βέλη τὰ τῶν Ἐρώτων ἐπόει λαβὼν σίδηρον· ἀκίδας δ’ ἔβαπτε Κύπρις μέλι τὸ γλυκὺ λαβοῦσα· ὁ δ’ Ἔρως χολὴν ἔμισγε. ὁ δ’ Ἄρης ποτ’ ἐξ ἀυτῆς στιβαρὸν δόρυ κραδαίνων βέλος ηὐτέλιζ’ Ἔρωτος· ὁ δ’ Ἔρως ‘τόδ’ ἐστὶν’ εἶπεν ’βαρύ· πειράσας νοήσεις’. ἔλαβεν βέλεμνον Ἄρης· ὑπεμειδίασε Κύπρις· ὁ δ’ Ἄρης ἀναστενάξας ’βαρύ·’ φησιν, ‘ἆρον αὐτό.’ ὁ δ’ Ἔρως ‘ἔχ’ αὐτό’ φησιν.
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28 Estava o esposo de Citereia1 em suas forjas de Lemnos as armas dos Amores a fabricar em bronze; as pontas, temperava-as Cípris com a doçura do seu mel, e Eros fel lhes misturava. Uma vez Ares, chegado da guerra, brandindo a robusta espada, pôs-se a troçar da arma de Eros. Mas Eros disse-lhe: “Esta é pesada; experimenta e verás!” Tomou Ares na mão a flecha (às ocultas sorria Cípris). Então Ares, entre gemidos, “é pesada” – disse – “toma lá!” Mas Eros respondeu: “Fica com ela!” 1
Hefestos. 91
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29 Χαλεπὸν τὸ μὴ φιλῆσαι, χαλεπὸν δὲ καὶ φιλῆσαι· χαλεπώτερον δὲ πάντων ἀποτυγχάνειν φιλοῦντα.
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29A Γένος οὐδὲν εἰς ἔρωτα· σοφίη, τρόπος πατεῖται· μόνον ἄργυρον βλέπουσιν. ἀπόλοιτο πρῶτος αὐτός ὁ τὸν ἄργυρον φιλήσας. διὰ τοῦτον οὐκ ἀδελφός, διὰ τοῦτον οὐ τοκῆες· πόλεμοι, φόνοι δι’ αὐτόν· τὸ δὲ χεῖρον, ὀλλύμεσθα διὰ τοῦτον οἱ φιλοῦντες.
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29 Difícil é não amar, difícil também amar; mas o mais difícil de tudo é perder quem se ama. 29A Raça nada conta para o amor; sabedoria e carácter, ele os calca. Apenas dinheiro vêem à frente. Diabos levem o primeiro homem que pelo dinheiro se enamorou. Por sua causa não temos irmão, por sua causa não temos pais; guerras e crimes dele provêm. E o que é pior, somos destruídos por sua causa, nós, os apaixonados.
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Ἐδόκουν ὄναρ τροχάζειν πτέρυγας φέρων ἐπ’ ὤμων, ὁ δ’ Ἔρως ἔχων μόλιβδον περὶ τοῖς καλοῖς ποδίσκοις ἐδίωκε καὶ κίχανεν. τί θέλει δ’ ὄναρ τόδ’ εἶναι; δοκέω δ’ ἔγωγε· πολλοῖς ἐν ἔρωσί με πλακέντα διολισθάνειν μὲν ἄλλους, ἑνί τωι δὲ συνδεθῆναι.
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30 Pareceu-me, em sonhos, que corria, de asas apetrechados os meus ombros, e que Eros, com chumbo à volta de seus belos pezinhos, me perseguia e apanhava. Que quer este sonho dizer? Eis o que me parece: em muitos amores me enredei, libertei-me de outros, mas apenas a este me amarrei.
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31 Ὑακινθίνηι με ῥάβδωι χαλεπῶς Ἔρως ῥαπίζων ἐκέλευε συντροχάζειν. διὰ δ’ ὀξέων μ’ ἀναύρων ξυλόχων τε καὶ φαράγγων τροχάοντα τεῖρεν ἱδρώς· κραδίη δὲ ῥινὸς ἄχρις ἀνέβαινε, κἂν ἀπέσβην. ὁ δ’ Ἔρως [μέτωπα σείων] ἁπαλοῖς πτεροῖσιν εἶπεν· ’σὺ γὰρ οὐ δύνηι φιλῆσαι;’
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31 Com um ramo de jacinto cruelmente Eros me açoitava e ordenava que corresse. Por velozes correntes, por bosques e abismos, na corrida me afligia o suor. O coração pelas narinas me saltava, e quase sucumbia. Mas Eros, [sacudindo-me a fronte] com as asas delicadas, me disse: “Então não és capaz de amar?”
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Ἐπὶ μυρσίναις τερείναις ἐπὶ λωτίναις τε ποίαις στορέσας θέλω προπίνειν· ὁ δ’ Ἔρως χιτῶνα δήσας ὑπὲρ αὐχένος παπύρωι μέθυ μοι διακονείτω. τροχὸς ἅρματος γὰρ οἷα βίοτος τρέχει κυλισθείς, ὀλίγη δὲ κεισόμεσθα κόνις ὀστέων λυθέντων. τί σε δεῖ λίθον μυρίζειν; τί δὲ γῆι χέειν μάταια; ἐμὲ μᾶλλον, ὡς ἔτι ζῶ, μύρισον, ῥόδοις δὲ κρᾶτα πύκασον, κάλει δ’ ἑταίρην· πρίν, Ἔρως, ἐκεῖ μ’ ἀπελθεῖν ὑπὸ νερτέρων χορείας, σκεδάσαι θέλω μερίμνας.
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32 Entre mirtos delicados e entre ramos de lótus estendido, quero fazer um brinde. E que Eros, atando a túnica ao pescoço com um fio,1 seja quem me serve o vinho. Pois como o eixo de um carro, a vida corre em eterno girar e em menos de nada jazeremos, cinza de uns ossos deslaçados. De que serve a lápide ornar de mirto? De que serve na terra verter vãs libações? Antes, enquanto estou vivo, orna-me de mirto, de rosas coroa-me a cabeça, traz-me uma amante. Antes, Eros, de lá descer, até aos coros dos defuntos, quero afugentar os cuidados. 1
À letra, “com o fio do papiro”. 99
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33 Μεσονυκτίοις ποτ’ ὥραις, στρέφετ’ ἦμος Ἄρκτος ἤδη κατὰ χεῖρα τὴν Βοώτου, μερόπων δὲ φῦλα πάντα κέαται κόπωι δαμέντα, τότ’ Ἔρως ἐπισταθείς μευ θυρέων ἔκοπτ’ ὀχῆας. ’τίς’ ἔφην ‘θύρας ἀράσσει, κατά μευ σχίσας ὀνείρους;’ ὁ δ’ Ἔρως ‘ἄνοιγε,’ φησίν, ’βρέφος εἰμί, μὴ φόβησαι· βρέχομαι δὲ κἀσέληνον κατὰ νύκτα πεπλάνημαι.’ ἐλέησα ταῦτ’ ἀκούσας, ἀνὰ δ’ εὐθὺ λύχνον ἅψας ἀνέωιξα, καὶ βρέφος μέν ἐσορῶ φέροντα τόξον πτέρυγάς τε καὶ φαρέτρην·
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33 Certa vez, a meio da noite, quando o Arcturo já se vira para a mão de Booto1, e todas as tribos dos mortais se deitam, tomadas de cansaço, Eros, que estava por perto, bateu à aldraba da porta: “Quem – disse eu – bate à porta, de mim afastando sonhos?” E Eros respondeu: “Abre, sou uma criança, nada temas! Estou encharcado e nesta noite sem lua ando perdido.” Porque senti pena ao ouvi-lo, num ápice acendo a lamparina, abro a porta e é uma criança, que vejo, trazendo um arco, apetrechada de asas e uma aljava.
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1 Semelhante descrição das constelações celestes encontramos em Ilíada 18. 487 sqq. e Odisseia 5. 272 sqq.
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παρὰ δ’ ἱστίην καθίξας παλάμαις τε χεῖρας αὐτοῦ ἀνέθαλπον, ἐκ δὲ χαίτης ἀπέθλιβον ὑγρὸν ὕδωρ. ὃ δ’ ἐπεὶ κρύος μεθῆκε ’φέρε’ φησὶ ‘πειράσωμεν τόδε τόξον, εἴ τί μοι νῦν βλάβεται βραχεῖσα νευρή.’ τανύει δέ, καί με τύπτει μέσον ἧπαρ ὥσπερ οἶστρος· ἀνὰ δ’ ἅλλεται καχάζων· ’ξένε’ δ’ εἶπε ‘συγχάρηθι· κέρας ἀβλαβὲς μένει μοι· σὺ δὲ καρδίαν πονήσεις.’
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Junto à lareira o sentei, com a palma das mãos as suas aqueci e da sua cabeleira sequei a húmida água. Ele então, liberto do frio, disse: “Anda, experimentemos este arco, a ver se agora a corda se danificou, molhada pela chuva.” Logo o retesa e atinge-me no fundo de mim, como um tavão. Põe-se depois a saltar, entre risos: “Amigo – dizia ele – alegra-te! O meu arco mantém-se intacto; és tu quem vai ferir o coração.”
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34 Μακαρίζομέν σε, τέττιξ, ὅτε δενδρέων ἐπ’ ἄκρων ὀλίγην δρόσον πεπωκώς βασιλεὺς ὅπως ἀείδεις. σὰ γάρ ἐστι κεῖνα πάντα, ὁπόσα βλέπεις ἐν ἀγροῖς χὠπόσα φέρουσιν ὗλαι. σὺ δὲ φείδεαι γεωργῶν, ἀπὸ μηδενός τι βλάπτων· σὺ δὲ τίμιος βροτοῖσιν, θέρεος γλυκὺς προφήτης. φιλέουσι μέν σε Μοῦσαι, φιλέει δὲ Φοῖβος αὐτός, λιγυρὴν δ’ ἔδωκεν οἴμην· τὸ δὲ γῆρας οὔ σε τείρει. σοφέ, γηγενής, φίλυμνε, ἀπαθής, ἀναιμόσαρκε· σχεδὸν εἶ θεοῖς ὅμοιος.
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34 Graças te damos, cigarra, quando no cimo das árvores, bebida uma gota de orvalho, como um rei te pões a cantar. É pertença tua tudo isto, quanto vislumbras nos campos [e quanto] oferecem as florestas. Tu poupas os agricultores, e ninguém prejudicas em nada; tu és estimada entre os mortais, e do Verão o doce profeta. Amam-te as Musas, ama-te Febo em pessoa, e melodioso canto te ofertou; nem mesmo a velhice te derruba. Sábia, filha da terra, amante do canto, isenta de dor, corpo isento de sangue: em tudo aos deuses te assemelhas.
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35 Ἔρως ποτ’ ἐν ῥόδοισι κοιμωμένην μέλιτταν οὐκ εἶδεν, ἀλλ’ ἐτρώθη. τὸν δάκτυλον παταχθείς τᾶς χειρὸς ὠλόλυξε, δραμὼν δὲ καὶ πετασθείς πρὸς τὴν καλὴν Κυθήρην ’ὄλωλα, μῆτερ,’ εἶπεν, ’ὄλωλα κἀποθνήσκω· ὄφις μ’ ἔτυψε μικρός πτερωτός, ὃν καλοῦσιν μέλιτταν οἱ γεωργοί.’ ἃ δ’ εἶπεν· ‘εἰ τὸ κέντρον πονεῖς τὸ τᾶς μελίττας, πόσον δοκεῖς πονοῦσιν, Ἔρως, ὅσους σὺ βάλλεις;’
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35 Eros, certa vez, entre rosas uma abelha adormecida calhou não ver e foi picado. Com o dedo ferido da mão se pôs a gritar, e a toda a pressa esvoaçou para junto da bela Citereia: “Estou perdido, mãe! – dizia –, estou perdido e às portas da morte! Uma serpente me mordeu, pequenina, dessas com asas a que chamam abelha os agricultores.” Ela lhe respondeu: “Se o ferrão te magoa, o de uma abelha, quanto julgas tu que magoas, Eros, aqueles que tu atinges?”
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Ὁ Πλοῦτος εἴ γε χρυσοῦ τὸ ζῆν παρεῖχε θνητοῖς, ἐκαρτέρουν φυλάττων, ἵν’ [ἂν Θάνατος ἐπέλθῃ] λάβηι τι καὶ παρέλθηι. εἰ δ’ οὖν μὴ τὸ πρίασθαι τὸ ζῆν ἔνεστι θνητοῖς, τί καὶ μάτην στεγάζω; [τί καὶ γόους προπέμπω;] θανεῖν γὰρ εἰ πέπρωται, τί χρυσὸς ὠφελεῖ με; ἐμοὶ γένοιτο πίνειν, πιόντι δ’ οἶνον ἡδύν ἐμοῖς φίλοις συνεῖναι, ἐν δ’ ἁπαλαῖσι κοίταις τελεῖν τὰν Ἀφροδίταν.
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36 A Riqueza, se por ouro a vida prolongasse aos mortais, paciente havia de guardá-lo, para que, [se a morte viesse], levasse algum consigo e se fosse. Mas se de facto comprar a vida não é dado aos mortais, porque hei-de em vão guardá-lo? [porquê também soltar gemidos?] Se morrer é o meu destino, que me aproveita o ouro? A mim, deixai-me beber, sorvendo um doce vinho com meus amigos conviver, e entre suaves almofadas cumprir os ritos de Afrodite.
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37 Διὰ νυκτὸς ἐγκαθεύδων ἁλιπορφύροις τάπησι γεγανυμένος Λυαίωι ἐδόκουν ἄκροισι ταρσῶν δρόμον ὠκὺν ἐκτανύειν μετὰ παρθένων ἀθύρων· ἐπεκερτόμουν δὲ παῖδες ἁπαλώτεροι Λυαίου, δακέθυμά μοι λέγοντες διὰ τὰς καλὰς ἐκείνας. ἐθέλοντι δὲ φιλῆσαι φύγον ἐξ ὕπνου μοι πάντες, μεμονωμένος δ’ ὁ τλήμων πάλιν ἤθελον καθεύδειν.
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37 Noite dentro, enquanto dormia em cobertas de marinho púrpura, radiante por efeito de Lieu, pareceu-me que, na ponta dos pés, me afastava em rápida corrida, com moças todas folgazãs; e zombavam uns rapazes mais delicados do que Lieu, palavras ferozes me diziam a respeito de tais beldades. Mas quando desejei beijá-las, escaparam-se-me do sono todas, e abandonado, pobre de mim, de novo desejei adormecer.
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Ἱλαροὶ πίωμεν οἶνον, ἀναμέλψομεν δὲ Βάκχον, τὸν ἐφευρετὰν χορείας, τὸν ὅλας ποθοῦντα μολπάς, τὸν ὁμότροπον Ἐρώτων, τὸν ἐρώμενον Κυθήρης· δι’ ὃν ἡ Μέθη λοχεύθη, δι’ ὃν ἡ Χάρις ἐτέχθη, δι’ ὃν ἀμπαύεται Λύπα, δι’ ὃν εὐνάζετ’ Ἀνία. τὸ μὲν οὖν πῶμα κερασθέν ἁπαλοὶ φέρουσι παῖδες, τὸ δ’ ἄχος πέφευγε μιχθέν ἀνεμοστρόφωι θυέλληι. τὸ μὲν οὖν πῶμα λάβωμεν, τὰς δὲ φροντίδας μεθῶμεν· τί γάρ ἐστί σοι τὸ κέρδος ὀδυνωμένωι μερίμναις; πόθεν οἴδαμεν τὸ μέλλον; ὁ βίος βροτοῖς ἄδηλος. μεθύων θέλω χορεύειν μεμυρισμένος τε παίζειν [μετὰ τῶν καλῶν ἐφήβῶν] μετὰ καὶ καλῶν γυναικῶν μελέτω δὲ τοῖς θέλουσι, ὅσον ἐστὶν ἐν μερίμναις. ἱλαροὶ πίωμεν οἶνον, ἀναμέλψομεν δὲ Βάκχον.
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38 Alegres bebamos vinho e cantemos em honra de Baco, o inventor dos coros, o amante de todas as melodias, o que partilha dos hábitos de Eros, o amado de Citereia. Graças a si foi gerada a Bebedeira, graças a si a Graça nasceu, graças a si se acalma a Dor, graças a si adormece a Aflição. O vinho misturado agora o trazem delicados mancebos, e o sofrimento se arredou, confuso, num turbilhão de ventos tumultuosos. O vinho, agora mesmo, bebamos, as preocupações afastemos: que vantagem tens afinal em ser perturbado por cuidados? Sabemos nós o que há-de vir? A vida, para os mortais, não é clara! Ébrio quero dançar e perfumado divertir-me [na companhia de belos efebos], na companhia de belas moças. Preocupe-se quem o desejar com quantos cuidados tem. Alegres bebamos vinho e cantemos em honra de Baco.
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39 Φιλῶ γέροντα τερπνόν, φιλῶ νέον χορευτάν· ἂν δ’ ὁ γέρων χορεύηι, τρίχας γέρων μέν ἐστιν, τὰς δὲ φρένας νεάζει.
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39 Gosto de um velho charmoso, gosto de um moço dançarino; mas se um velho se põe a dançar, apenas em seus cabelos é velho, pois, de coração, é moço ainda.
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40 Ἐπειδὴ βροτὸς ἐτύχθην βιότου τρίβον ὁδεύειν, χρόνον ἔγνων ὃν παρῆλθον, ὃν δ’ ἔχω δραμεῖν οὐκ οἶδα. [μέθετέ με φροντίδες·] μηδέν μοι χὔμιν ἔστω. πρὶν ἐμὲ φθάσηι τὸ τέλος. παίξω, γελάσω, χορεύσω μετὰ τοῦ καλοῦ Λυαίου.
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40 Posto que mortal fui gerado para percorrer os trilhos da vida, conheço o tempo que já andei, mas o que hei-de correr ignoro. [Deixem-me, preocupações!] Nada quero ter convosco. Antes que chegue o meu fim, hei-de brincar, rir e dançar, na companhia do belo Lieu.
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41 Ἡ καλόν ἐστι βαδίζειν ὅπου λειμῶνες κομῶσιν, ὅπου λεπτὸς ἡδυτάτην ἀναπνεῖ Ζέφυρος αὔρην, κλῆμά τε Βάκχιον ἰδεῖν χὐπὸ τὰ πέταλα δῦναι ἁπαλὴν παῖδα κατέχων Κύπριν ὅλην πνέουσαν.
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41 Que agradável é passear-se por onde florescem os prados, por onde, delicado, a mais doce brisa de vento espalha o Zéfiro, a videira de Baco contemplar e sob as suas folhas acostar-se, uma delicada moça abraçando, toda ela uma Cípris perfumada.
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Ποθέω μὲν Διονύσου φιλοπαίγμονος χορείας, φιλέω δ’ ὅταν ἐφήβου μετὰ συμπότου λυρίζω· στεφανίσκους δ’ ὑακίνθων κροτάφοισιν ἀμφιπλέξας μετὰ παρθένων ἀθύρειν φιλέω μάλιστα πάντων. φθόνον οὐκ οἶδ’ ἐμὸν ἦτορ· [φθόνον οὐκ οἶδα δαϊκτόν·] φιλολοιδόροιο γλώττης ἔφυγον βέλεμνα κοῦφα· στυγέω μάχας παροίνους. πολυκώμους κατὰ δαῖτας νεοθηλέσιν ἅμα κούραις ὑπὸ βαρβίτωι χορεύων βίον ἥσυχον φεροίμην.
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42 Anseio de Diónisos folgazão as danças, adoro quando, com um efebo, companheiro de banquete, toco lira; de coroas de jacintos adornar as têmporas e brincar com moçoilas, isso adoro acima de tudo. Inveja não conhece o meu coração; [inveja não conheço, dilacerante;] da língua dada a injúrias evito os dardos inúteis. Detesto discussões de ébrios. Em abundantes festins, na companhia de frescas moçoilas, ao som da lira dançando em coro, oxalá eu leve a vida regalado.
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43 Στεφάνους μὲν κροτάφοισι ῥοδίνους συναρμόσαντες μεθύωμεν ἁβρὰ γελῶντες. ὑπὸ βαρβίτωι δὲ κούρα κατακίσσοισι βρέμοντας πλοκάμοις φέρουσα θύρσους χλιδανόσφυρος χορεύει· ἁβροχαίτας δ’ ἅμα κοῦρος στομάτων ἁδὺ πνεόντων κατὰ πηκτίδων ἀθύρει προχέων λίγειαν ὀμφάν. ὁ δ’ Ἔρως ὁ χρυσοχαίτας μετὰ τοῦ καλοῦ Λυαίου καὶ τῆς καλῆς Κυθήρης τὸν ἐπήρατον γεραιοῖς κῶμον μέτεισι χαίρων.
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43 Com grinaldas de rosas cingida a nossa testa, embriaguemo-nos, docemente sorrindo. Ao som da lira, uma moça delirante, cobertos de hera os cabelos e de tirso na mão, com delicados pés dança. Perto, um rapaz de suaves melenas e boca de doce respirar toca as cordas da lira1, derramando uma doce voz. E Eros, de douradas melenas, junto com o belo Lieu e com a bela Citereia, ao festim, delícia dos velhos, alegremente há-de juntar-se.
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Em rigor, estamos a falar de um instrumento de cordas, provavelmente originário da Lídia. Diz-se que foi Safo quem o introduziu na Grécia. Confundiu-se, tardiamente, com a lira, o sentido que parece dar-lhe o presente poema. 1
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Τὸ ῥόδον τὸ τῶν Ἐρώτων μίξωμεν Διονύσωι· τὸ ῥόδον τὸ καλλίφυλλον κροτάφοισιν ἁρμόσαντες πίνωμεν ἁβρὰ γελῶντες. ῥόδον ὦ φέριστον ἄνθος, ῥόδον εἴαρος μέλημα, [ῥόδα καὶ θεοῖσι τερπνά,] ῥόδον ὧι παῖς ὁ Κυθήρης στέφεται καλοὺς ἰούλους Χαρίτεσσι συγχορεύων· στέψον οὖν με, καὶ λυρίξω παρὰ σοῖς Διόνυσε σηκοῖς μετὰ κούρης βαθυκόλπου ῥοδίνοισι στεφανίσκοις πεπυκασμένος χορεύσω.
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44 A rosa, a dos Amores, misturemo-la com Diónisos! A rosa, a de belas pétalas, à nossa fronte aconchegando, bebamos entre suaves risos. Rosa, mais sublime das flores, rosa, emblema da Primavera, [rosa, para os deuses uma delícia], rosa, com que o filho de Citereia coroa as belas maçãs do seu rosto, quando com as Graças brinca. Coroa-me agora, e tocarei lira junto aos teus templos, Diónisos, e com uma moça de cintura fina, de grinaldas de rosas todo enfeitado, hei-de dançar.
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45 Ὅταν πίνω τὸν οἶνον, εὕδουσιν αἱ μέριμναι. τί μοι πόνων, τί μοι γόων, τί μοι μέλει μεριμνῶν; θανεῖν με δεῖ, κἂν μὴ θέλω τί δὲ τὸν βίον πλανῶμαι· πίωμεν οὖν τὸν οἶνον τὸν τοῦ καλοῦ Λυαίου· σὺν τῶι δὲ πίνειν ἡμᾶς εὕδουσιν αἱ μέριμναι.
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45 Quando bebo o meu vinho, adormecem as preocupações. De que valem penas, aflições, de que valem preocupações? Se hei-de morrer, queira ou não, de que vale iludir a vida? Bebamos pois o nosso vinho, o que do belo Lieu é pertença: pois ao bebê-lo em sua companhia, adormecem as nossas preocupações.
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46 Ἴδε πῶς ἔαρος φανέντος Χάριτες ῥόδα βρύουσιν· ἴδε πῶς κῦμα θαλάσσης ἁπαλύνεται γαλήνηι· ἴδε πῶς νῆσσα κολυμβᾶι ἴδε πῶς γέρανος ὁδεύει. ἀφελῶς δ’ ἔλαμψε Τιτάν, νεφελῶν σκιαὶ δονοῦνται, τὰ βροτῶν δ’ ἔλαμψεν ἔργα, [καρποῖσι γαῖα προκύπτει, καρπὸς ἐλαίας] προκύπτει· [Βρομίου στέφεται] νᾶμα κατὰ φύλλον [κατακλόνον καθελων] ἤνθισε καρπός.
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46 Repara, ao romper da Primavera, como as Graças fazem brotar rosas! Repara como a orla do mar se acalma com o bom tempo; repara como o pato mergulha, repara como o grou segue caminho. Radiante brilha o Titã1, das nuvens se afastam as sombras, brilham os feitos dos mortais, [em frutos a terra brota, o fruto da oliveira] brota; [de Brómio, escorrem] lágrimas pela folhagem [e pela videira, desabrocha] e floresce o fruto. 1
O Sol. 129
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Ἐγὼ γέρων μέν εἰμι, νέων πλέον δὲ πίνω [...............................] σκῆπτρον ἔχων τὸν ἀσκόν ὁ νάρθηξ δ’ οὐδέν ἐστιν. ὁ μὲν θέλων μάχεσθαι, πάρεστι γάρ, μαχέσθω· ἐμοὶ κύπελλον ὦ παῖ μελιχρὸν οἶνον ἡδύν ἐγκεράσας φόρησον. ἐγὼ γέρων μέν εἰμι, [νέων πλέον δὲ πίνω·] κἂν δεήσηι με χορεύειν, Σιληνὸν ἐν μέσοισι μιμούμενος χορεύσω.
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47 Eu sou um homem velho, mas os novos venço na bebida! [...............................] como ceptro segurando o odre, o tirso de nada me serve. E quem quiser lutar, avance então, que lute! Para mim, rapaz, uma taça de vinho, adocicado com mel, mistura e traz-me cá! Eu sou um homem velho, [mas os novos venço na bebida!] E se forçoso for que dance, a Sileno1, bem no meio imitando, então dançarei. 1
Nome de um sátiro velho, aqui imagem do poeta ancião. 131
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48 Ὅταν ὁ Βάκχος ἔλθηι, εὕδουσιν αἱ μέριμναι, δοκῶ δ’ ἔχειν τὰ Κροίσου. θέλω καλῶς ἀείδειν· κισσοστεφὴς δὲ κεῖμαι, πατῶ δ’ ἅπαντα θυμῶι. ὅπλιζ’· ἐγὼ δὲ πίνω. φέρε μοι κύπελλον ὦ παῖ· μεθύοντα γάρ με κεῖσθαι πολὺ κρεῖσσον ἢ θανόντα.
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48 Toda a vez que Baco chega, adormecem as preocupações e sinto possuir os bens de Creso.1 Desejo com graça cantar! Coroado de hera vou para a cama e espezinho tudo em meu coração. Prepara o vinho! Eu cá bebo! Traz-me lá uma taça, rapaz! Ébrio de todo ir para a cama, quão melhor é do que já morto?
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A fortuna de Creso era, na Antiguidade, metáfora comum para os delírios de riqueza. Deste governante, o último da Lídia, se contava a anedota de que, confrontado por Sólon acerca da verdadeira felicidade, lhe teria respondido que um homem apenas poderia considerar-se inteiramente feliz depois de morto. 1
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Τοῦ Διὸς ὁ παῖς ὁ Βάκχος, ὁ λυσίφρων ὁ Λυαῖος, ὅταν εἰς φρένας τὰς ἐμάς εἰσέλθηι μεθυδώτας, διδάσκει με χορεύειν. ἔχω δέ τι καὶ τερπνόν ὁ τᾶς μέθας ἐραστάς· μετὰ κρότων, μετ’ ὠιδᾶς τέρπει με κἀφροδίτα· πάλιν θέλω χορεύειν.
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49 O filho de Zeus, Baco, o libertador, o Lieu, quando em meu coração entra, patrono da embriaguez, ensina-me a dançar. Mas tenho outro prazer, eu, o amante da borracheira: ao som de crótalos1 e canções, agrada-me também Afrodite; e de novo quero dançar.
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1 Pequenos instrumentos musicais em tudo semelhantes a castanholas, frequentes na iconografia antiga dos banquetes.
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Ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, τότ’ ἐμὸν ἦτορ ἰανθέν [μέλος] ἄρχεται λιγαίνειν, [ἀναβάλλεται δὲ] Μούσας. ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, ἀπορίπτονται μέριμναι πολυφρόντιδές τε βουλαί ἐς ἁλικτύπους ἀήτας. ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, λυσιπήμων τότε Βάκχος πολυανθέσιν μ’ ἐν αὔραις δονέει μέθηι γανώσας. ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, στεφάνους ἄνθεσι πλέξας ἐπιθείς τε τῶι καρήνωι βιότου μέλπω γαλήνην. ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, μύρωι εὐώδεϊ τέγξας δέμας, ἀγκάλαις δὲ κούρην κατέχων, Κύπριν ἀείδω. ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, ὑπὸ κυρτοῖσι κυπέλλοις τὸν ἐμὸν νόον ἁπλώσας θιάσωι τέρπομαι κούρων. ὅτ’ ἐγὼ πίω τὸν οἶνον, τοῦτ’ ἐμοὶ μόνωι τὸ κέρδος, τοῦτ’ ἐγὼ λαβὼν ἀποίσω· τὸ θανεῖν γὰρ μετὰ πάντων.
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50 Quando bebo o meu vinho, o meu coração se acalenta, [uma canção] se põe a entoar [e a espicaçar] as Musas. Quando bebo o meu vinho, debandam as preocupações, os muitos cuidados e vontades para os ventos que sacodem o mar. Quando bebo o meu vinho, então Baco, que dissipa as penas, com brisas de muitas flores me excita, alegrando-me com a bebedeira. Quando bebo o meu vinho, com grinladas de flores entrelaçadas e ajustadas à minha fronte, canto a serenidade da vida. Quando bebo o meu vinho, com mirra odorífera ungida a pele, e nos braços uma moça apertando, Cípris celebro a cantar. Quando bebo o meu vinho, sob o efeito das côncavas taças o meu espírito libertando, rejubilo com o tíaso1 de rapazes. Quando bebo o meu vinho, esta certeza apenas me aproveita, esta certeza levarei para toda a parte: a de morrer, como todas as coisas.
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1 Originalmente, o thiasos era o grupo, de carácter selvático, que prestava culto a Diónisos. Neste contexto, está associado ao vinho e ao cenário de banquete.
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51 Μή με φύγηις ὁρῶσα τὰν πολιὰν ἔθειραν· μηδ’, ὅτι σοὶ πάρεστιν ἄνθος ἀκμαῖον, τᾶς ἐμᾶς ὥρας φίλτρα διώξηις. ὅρα, κἀν στεφάνοισιν ὅπως πρέπει τὰ λευκά ῥόδοις κρίνα πλακέντα.
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51 Não me fujas tu, ao ver a minha grisalha cabeleira! Nem, por estar patente o auge do teu florir, da minha idade os encantos rejeites. Repara, mesmo nas grinaldas, como caem bem as brancas açucenas, com rosas enlaçadas.
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Τί με τοὺς νόμους διδάσκεις καὶ ῥητόρων ἀνάγκας; τί δέ μοι λόγων τοσούτων τῶν μηδὲν ὠφελούντων; μᾶλλον δίδασκε πίνειν ἁπαλὸν πῶμα Λυαίου, μᾶλλον δίδασκε παίζειν μετὰ χρυσῆς Ἀφροδίτης. 52A Πολιαὶ στέφουσι κάραν· δὸς ὕδωρ, βάλ’ οἶνον ὦ παῖ· τὴν ψυχήν μου κάρωσον. βραχύ με ζῶντα καλύπτεις· ὁ θανὼν οὐκ ἐπιθυμεῖ.
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52 Por que me ensinas as normas e os preceitos dos retores? Que me importam discursos, desses que a ninguém interessam? Ensina-me antes a beber a pura mezinha de Lieu, ensina-me antes a brincar com a dourada Afrodite. 52A As brancas coroam a minha cabeça. Dá-me água, deita vinho, meu rapaz! A minha alma mergulha no sono. Em breve, sem vida, me hás-de enterrar; e o que está morto nada deseja.
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53 Ὅτ’ ἐγὼ ‘ς νέων ὅμιλον ἐσορῶ, πάρεστιν ἥβα. τότε δή, τότ’ ἐς χορείην ὁ γέρων ἐγὼ πτεροῦμαι, παραμαίνομαι, κυβηβῶ. παράδος· θέλω στέφεσθαι· πολιὸν δὲ γῆρας ἐκδύς νέος ἐν νέοις χορεύσω. Διονυσίης δέ μοί τις φερέτω ῥοὰν ὀπώρης, ἵν’ ἴδηι γέροντος ἀλκήν δεδαηκότος μὲν εἰπεῖν, δεδαηκότος δὲ πίνειν χαριέντως τε μανῆναι.
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53 Quando para um grupo de mancebos dirijo o olhar, regressa a juventude. Nesse momento, para a dança o velho que sou ganha asas, entro em delírio, fico inquieto. Está decidido! Quero ser coroado! Da grisalha velhice despojado, jovem entre jovens, hei-de dançar. E que, de Diónisos, alguém me traga o suco, o da sua colheita, para que veja a força de um velho que por si aprendeu a falar, que por si aprendeu a beber e, com graça, a entrar em delírio.
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54 Ὁ ταῦρος οὗτος ὦ παῖ δοκεῖ τις εἶναί μοι Ζεύς φέρει γὰρ ἀμφὶ νώτοις Σιδωνίαν γυναῖκα· περᾶι δὲ πόντον εὐρύν, τέμνει δὲ κῦμα χηλαῖς. οὐκ ἂν δὲ ταῦρος ἄλλος ἐξ ἀγέλης ἐλασθείς ἔπλευσε τὴν θάλασσαν, εἰ μὴ μόνος ἐκεῖνος.
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54 Este touro aqui, meu rapaz, parece-me que é um Zeus, já que leva, sobre as costas, a mulher de Sídon1. Cruza a imensidão do mar e corta as ondas com os cascos. É que nenhum outro touro, assim afastado da manada, navegaria pelo oceano, nenhum outro que não esse. 1
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Alusão ao rapto de Europa (natural de Sídon) por Zeus, vertido em touro. 145
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55 Στεφανηφόρου μετ’ ἦρος μέλομαι ῥόδον τέρεινον συνέταιρον ὀξὺ μέλπειν. τόδε γὰρ θεῶν ἄημα, τόδε καὶ βροτοῖσι χάρμα, Χάρισίν τ’ ἄγαλμ’ ἐν ὥραις πολυανθέων Ἐρώτων, ἀφροδίσιόν τ’ ἄθυρμα· τόδε καὶ μέλημα μύθοις χαρίεν φυτόν τε Μουσῶν. γλυκὺ καὶ πονοῦντ’ ἀγείρειν ἐν ἀκανθίναις ἀταρποῖς, γλυκὺ δ’ αὖ λαβόντα θάλπειν μαλακαῖσι χερσί, κοῦφον προάγοντ’ ἔρωτος ἄνθος. ἀπορῶ τόδ’ αὖ, τί τερπνόν θαλίαις τε καὶ τραπέζαις Διονυσίαις τ’ ἑορταῖς δίχα τοῦ ῥόδου γένοιτ’ ἄν. ῥοδοδάκτυλος μὲν Ἠώς, ῥοδοπήχεες δὲ Νύμφαι, ῥοδόχρους δὲ κἀφροδίτα παρὰ τῶν σοφῶν καλεῖται.
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55 Da Primavera que porta grinaldas quero a rosa delicada, sua viva companheira, cantar. Ela é dos deuses a respiração, ela é para os mortais a alegria, para as Graças a glória, nas estações dos Amores de muitas flores, a delícia de Afrodite; ela é ainda assunto de histórias e a graciosa planta das Musas. Doce é o esforço por encontrá-la em carreiros cheios de espinhos, doce também colhê-la e aquecê-la em mãos delicadas, a suave flor do amor que se ostenta! Pergunto uma vez mais: que encanto, em festas e banquetes e nos festins de Diónisos, poderia haver sem a rosa? De róseos dedos a Aurora, de róseos braços as Ninfas e de rósea tez até Afrodite1 entre os entendidos é chamada.
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1 Os três epítetos que acompanham estas figuras míticas eram frequentes na épica e na lírica grega arcaica.
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τόδε καὶ νοσοῦσιν ἀρκεῖ, τόδε καὶ νεκροῖς ἀμύνει, τόδε καὶ χρόνον βιᾶται· χαρίεν ῥόδων δὲ γῆρας νεότητος ἔσχεν ὀδμήν. φέρε δή, φύσιν λέγωμεν· χαροπῆς ὅτ’ ἐκ θαλάττης δεδροσωμένην Κυθήρην ἐλόχευε πόντος ἀφρῶι, πολεμόκλονόν τ’ Ἀθήνην κορυφῆς ἔδειξεν ὁ Ζεύς, φοβερὰν θέαν Ὀλύμπωι, τότε καὶ ῥόδων ἀγητόν νέον ἔρνος ἤνθισε χθών, πολυδαίδαλον λόχευμα· μακάρων θεῶν δ’ ὅμοιον ῥόδον ὡς γένοιτο, νέκταρ ἐπιτέγξας ἀνέθηλεν ἀγέρωχον ἐξ ἀκάνθης φυτὸν ἄμβροτον Λυαῖος.
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Ela socorre o enfermo, ela protege os mortos, ela desafia o tempo: a graciosa velhice das rosas da juventude conserva o aroma. Vá, falemos do seu nascimento! Quando das ondas cinzentas a orvalhada Citereia o mar gerou na espuma, e quando a Atena do grito de guerra da própria cabeça Zeus gerou, terrível visão para o Olimpo, então, das rosas o admirável rebento novo a terra floriu, parto de refinada arte. E para que aos deuses afortunados se assemelhasse a rosa, de néctar a salpicou Lieu, para que florisse, orgulhosa, entre espinhos, essa planta imortal.
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56 Ὁ τὸν ἐν πόνοις ἀτειρῆ, νέον ἐν πόθοις ἀταρβῆ, καλὸν ἐν πότοις χορευτήν τελέων θεὸς κατῆλθε, ἁπαλὸν βροτοῖσι φίλτρον, πόθον ἄστονον κομίζων, γόνον ἀμπέλου, τὸν οἶνον, πεπεδημένον ὀπώραις ἐπὶ κλημάτων φυλάττειν, ἵν’ ὅταν τέμωσι βότρυν ἄνοσοι μένωσι πάντες, ἄνοσοι δέμας θεητόν, ἄνοσοι γλυκύν τε θυμόν ἐς ἔτους φανέντος ἄλλου.
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56 O que nas dores dá perseverança, ao jovem nas paixões dá coragem e beleza, nos banquetes, ao dançarino, esse deus veio e trouxe a suave mezinha aos mortais, desejo que põe cobro à dor, o fruto da videira, o vinho, encerrado nos frutos da vinha, para que o guardem, para que, ao cortar o cacho, saudáveis permaneçam todos, saudáveis num corpo esbelto, saudáveis num coração doce, até que surja um novo ano.
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57 Ἄρα τίς τόρευσε πόντον; ἄρα τίς μανεῖσα τέχνα ἀνέχευε κῦμα δίσκωι; ἐπὶ νῶτα τῆς θαλάττης ἄρα τίς ὕπερθε λευκάν ἁπαλὰν χάραξε Κύπριν νόος ἐς θεοὺς ἀερθείς, μακάρων φύσιος ἀρχάν; ὃ δέ νιν ἔδειξε γυμνάν, ὅσα μὴ θέμις δ’ ὁρᾶσθαι μόνα κύμασιν καλύπτει. ἀλαλημένα δ’ ἐπ’ αὐτά βρύον ὥς, ὕπερθε λευκᾶς ἁπαλόχροον γαλήνας δέμας εἰς πλόον φέρουσα, ῥόθιον πάροιθεν ἕλκει· ῥοδέων δ’ ὕπερθε μαζῶν, ἁπαλῆς ἔνερθε δειρῆς, μέγα κῦμα πρῶτα τέμνει μέσον αὔλακος δὲ Κύπρις κρίνον ὣς ἴοις ἑλιχθέν διαφαίνεται γαλήνας.
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57 Mas quem cinzelou o mar? Mas que arte inspirada fez transbordar a onda no disco? Nas costas do mar, quem, ao cimo, a nívea e imaculada Cípris gravou, espírito elevado até aos deuses, ela, origem da natureza dos afortunados? Esse homem mostrou-a nua, e o que não é lícito revelar apenas com as ondas ocultou. Vagueando, sobre as ondas, como musgo, pela brancura do mar calmo o delicado corpo faz a sua travessia, e à sua frente rasga as ondas. Acima dos róseos seios, mas abaixo do puro pescoço, uma grande onda primeiro a divide e Cípris, no meio do sulco, qual açucena com violetas misturada, resplandece no mar calmo.
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ὑπερ ἀργύρου δ’ ὀχοῦνται ἐπὶ δελφῖσι χορευταῖς δολερὸν νόον μετοίσων Ἔρος Ἵμερος γελῶν τε, χορὸς ἰχθύων τε κυρτός ἐπὶ κυμάτων κυβιστᾶι Παφίης τε σῶμα παίζει ἵνα νήχεται γελῶσα.
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Sobre a prata cavalgam, em golfinhos que dançam, o deus que muda o astuto pensar, Eros, e o folgazão Desejo, e um coro circular de peixes, às cambalhotas sobre as ondas, brinca com o corpo da deusa de Pafos, enquanto ela nada sorridente.
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58 Ὁ δραπέτας ὁ Χρυσός ὅταν με φεύγηι κραιπνοῖς διηνέμοις τε ταρσοῖς (ἀεὶ δ’, ἀεί με φεύγει), οὔ μιν διώκω· τίς γάρ μισοῦν θέλει τι θηρᾶν; ἐγὼ δ’ ἄφαρ λιασθείς τῶι δραπέται τῶι Χρυσῶι ἐμῶν φρενῶν μὲν αὔραις φέρειν ἔδωκα λύπας, λύρην δ’ ἑλὼν ἀείδω ἐρωτικὰς ἀοιδάς. πάλιν δ’ ὅταν με θυμός ὑπερφρονεῖν διδάξηι, ἄφνω προσεῖπ’ ὁ δραπέτας φέρων μέθαν μοι φροντίδων, ἑλών μιν ὡς μεθήμων λύρης γένωμαι λαροῦ. ἄπιστ’, ἄπιστε Χρυσέ, μάταν δόλοις με θέλγεις· πλέον λύρης σου νεῦρα πόθους κέκευθεν ἁδεῖς· σὺ γὰρ δόλων, σύ τοι φθόνων ἔρωτ’ ἔθηκας ἀνδράσιν·
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58 Quando o fugitivo, o Ouro, me escapa com pés velozes, rápidos como o vento (e sempre, sempre me escapa), não corro atrás dele: quem, afinal, deseja caçar algo que odeia? Pois eu, mal me afastei do fugitivo, do Ouro, do meu coração às brisas ofereci as penas, para as levarem, e, empunhando a lira, entoo canções de amor. Mas quando de novo o coração me ensina a desprezá-lo, logo me fala o fugitivo, trazendo embriaguez de pensamentos, para que o aceite, e negligente me torne com a lira graciosa. Pérfido, pérfido Ouro! Em vão me seduzes com tuas manhas! Mais do que tu, as cordas da lira é que escondem doces desejos: pois tu, de astúcia, tu, de invejas o amor trouxeste aos homens.
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λύρη δ’ ἄλυπα παστάδων φιλαμάτων τε κεδνῶν πόθων κύπελλα κιρνᾶι. [.............................] ὅταν θέληις δέ, φεύγεις λύρης δ’ ἐμῆς ἀοιδάν οὐκ ἂν λίποιμι τυτθόν. ξείνοις σὺ δ’ ἀντὶ Μουσῶν δολίοις ἀπίστοις ἁνδάνεις ἐμοὶ δὲ τῶι λυροκτύπηι Μοῦσα φρεσὶν πάροικος· ἀχὰν τεὰν ὀρίνοις αἴγλαν τεὰν λαμπρύνοις.
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Já a lira, isenta de alcovas e de beijos diligentes, mistura taças de desejos. [.............................] Sempre que queres tu foges, mas o som da minha lira não o abandonarei um momento. A hóspedes, em vez de Musas, pérfidos, incrédulos, tu agradas; quanto a mim, tocador da lira, a Musa habita em meu coração. Bem podes erguer o teu grito, orgulhar-te do teu brilho!
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59 Τὸν μελανόχρωτα βότρυν ταλάροις φέροντες ἄνδρες μετὰ παρθένων ἐπ’ ὤμων [.......................................] κατὰ ληνοῦ δὲ βαλόντες μόνον ἄρσενες πατοῦσιν σταφυλῆς λύοντες οἶνον, μέγα τὸν θεὸν κροτοῦντες ἐπιληνίοισιν ὕμνοις, ἐρατὸν πίθοις ὁρῶντες νέον ἐσζέοντα Βάκχον. ὃν ὅταν πίνηι γεραιός, τρομεροῖς ποσὶν χορεύει, πολιὰς τρίχας τινάσσων. ὁ δὲ παρθένον λοχήσας ἐρατὸς νέος [............... .................] ἐλυσθείς ἁπαλὸν δέμας χυθεῖσαν σκιερῶν ὕπερθε φύλλων, βεβαρημένην ἐς ὕπνον. ὁ δ’ Ἔρως ἄωρα θέλγων [παράγει κόρην προδήλων] προδότιν γάμων γενέσθαι. ὁ δὲ μὴ λόγοισι πείθων τότε μὴ θέλουσαν ἄγχει· μετὰ γὰρ νέων ὁ Βάκχος μεθύων ἄτακτα παίζει.
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59 O cacho de uvas de negra tez em cestos o levam os homens e as moças aos ombros [.......................................] quando para o lagar o atiram, apenas os varões o pisam, dos cachos libertando o vinho, bem alto aplaudindo o deus com cantos de vindima, ao ver espumar, nas vasilhas, o amável Baco novo. Sempre que o bebe um velho, de pés trémulos é vê-lo dançar, a branca cabeleira agitando. A uma moça armou a rede um amável mancebo [… …] e, agachando-se, o seu corpo gentil, estendido sobre folhas ensombradas, ele abraça, vencida que esteja pelo sono. E Eros, com inoportunos feitiços, [incentiva a rapariga às futuras] bodas se tornar infiel. Ele, não a convencendo por palavras, mesmo sem ela querer a aperta: deste modo Baco, entre a gente nova, ébrio se diverte e espalha a confusão.
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60 Ἀνὰ βάρβιτον δονήσω (ἄεθλος μὲν οὐ πρόκειται, μελέτη δ’ ἔπεστι) πάντηι σοφίης λαχὼν ἄωτον. ἐλεφαντίνωι δὲ πλήκτρωι λιγυρὸν μέλος κροαίνων Φρυγίωι ῥυθμῶι βοήσω, ἅτε τις κύκνος Καΰστρου ποικίλον πτεροῖσι μέλπων ἀνέμου σύναυλος ἠχῆι· σὺ δὲ Μοῦσα συγχόρευε. <ἐρέω Δάφνης τὸν οἶτον·> ἱερὸν γάρ ἐστι Φοίβου κιθάρη δάφνη τρίπους τε. [..................................... ........................................] τοῦ μὲν ἐκπέφευγα κέντρα λαλέων ἔρωτα Φοίβου, ἀνεμώλιον τὸν οἶστρον. σαόφρων γὰρ ἐστ[έναξεν θεὸν οὐ θέλουσα κούρη γαμέτην ἔχειν· ὁ δὲ Ζεύς
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60 Bem alto farei vibrar a lira (e nenhum prémio existe, é puro jogo), em toda a parte granjeando a flor da sabedoria. Com o plectro de marfim clara melodia entoando, em ritmo frígio gritarei como um cisne do Caístro1, que com as asas um variegado canto em uníssono com o vento ressoa. E tu, Musa, vem dançar comigo! [Falarei da desgraça de Dafne,] pois sagrados são para Febo a cítara, o loureiro e a trípode. [..................................... ........................................] Escapei ao seu aguilhão, por trautear a paixão de Febo, à sua picada leve como o vento. Pois casta [se manteve a rapariga sem desejar esse deus ter por esposo; Zeus então 1
Cf. Ilíada 2. 460-461. 163
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ἐλέησ’ ἄπωθ’] ἀκούσας, φύσεως δ’ ἄμειψε μορφήν, φυτὸν εὐθαλὲς δ’ ἐπήχθη. ὁ δὲ Φοῖβος †ἠὲ Φοῖβος† κρατέειν κόρην νομίζων, χλοερὸν δρέπων δὲ φύλλον ἐδόκει τελεῖν Κυθήρην. ἄγε, θυμέ, πῆι μέμηνας μανίην μανεὶς ἀρίστην· τὸ βέλος φέρε κράτυνον, σκοπὸν ὡς βαλὼν ἀπέλθηις, τὸ δὲ τόξον Ἀφροδίτης ἄφες ὡς θεοὺς ἐνίκα. τὸν Ἀνακρέοντα μιμοῦ, τὸν ἀοίδιμον μελιστήν. φιάλην πρόπινε παισίν, φιάλην λόγων ἐραννήν· ἀπὸ νέκταρος ποτοῖο παραμύθιον λαβόντες φλογερὸν φυγόντες ἄστρον [......................................]
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dela se apiedou ao longe], escutando-a, da sua natureza mudou a forma e em rebento florescente a volveu. Febo então [chegou, Febo], julgando ainda dominar a donzela, e arrancando a verde folhagem pensa cumprir os ritos de Citereia. Vá coração, porque te agitas, pela maior loucura enlouquecido? Ergue a tua arma com vigor, para partir e atingir a meta, e o arco de Afrodite desfere, com o qual os deuses ela venceu. Anacreonte deves imitar, esse afamado cantor. Uma taça ergue pelos rapazes, uma taça amável de versos! Da bebida de néctar conseguindo o conforto, evitando o astro inflamado, [......................................]
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FRAGMENTA
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1 [Anacr. 65B, 28D, PMG 505 (d)] [τὸν] Ἔρωτα γὰρ τὸν ἁβρόν μέλομαι βρύοντα μίτραις πολυανθέμοις ἀείδειν. ὅδε καὶ θεῶν δυνάστης, ὅδε καὶ βροτοὺς δαμάζει. 2 [Anacr. 60B] φέρ’ ὕδωρ, φέρ’ οἶνον ὦ παῖ, μέθυσόν με καὶ κάρωσον· τὸ ποτήριον λέγει μου ποδαπόν με δεῖ γενέσθαι. 3 [Anacr. 62B] δοκέει κλύειν γὰρ ἥδε, λαλέειν τις εἰ θελήσηι. 4 [Anacr. 61B] τί με φεύγεις τὸν γέροντα;
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FRAGMENTOS
1 A Eros, o efeminado, florescente em diademas de variegadas flores, quero cantar. É ele dos deuses o soberano, é ele quem domina os mortais. 2 Traz água, traz vinho meu rapaz, embriaga-me e põe-me a dormir! Esta taça pequenina me ensina de que forma devo comportar-me. 3 Parece-me mesmo que ela escuta, se falar for desejo de alguém. 4 Por que foges cá do velhote?
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Índice de Nomes Os topónimos são assinalados com asterisco (*). Entre parênteses rectos indicam-se as ocorrências inseguras no texto dos códices.
Arcturo: 101 Ares: 67, 91 Arquíloco: 12 e n. 1, 13, 15, 45 n. 1 Ártemon: 13 Atena: 63, 149 Atenas*: 11, 16, 57 Átis: 51 e n. 1 Atridas: 81 e n. 1 Aulo Gélio: 20 Aurora: 147 Bacantes: 31 Baco: vd. Diónisos Báctria*: 57 Batilo: 12, 16, 20, 33, 49, 59, 67, 69, 71 Bebedeira: 113 Beleza: 73 Brómio: vd. Diónisos Cadmeus: 81 n. 1 Cadmo*: 81 e n. 1 Caístro*: 163 Canobo*: 57
Abdera*: 11 Acaia*: 57 Adónis: 69 e n. 1 Adrasto: 47 n. 1 Aflição: 113 Afrodite: 19, [37] e n. 2, 69 e n.2, 75, 109, 135, 141, 147, 165 | Citereia: 37 e n. 2, 59, 63, 67, 73, 91, 107, 113, 123, 125, 149, 165 | Cípris: 39 e n. 2, 91, 119, 137, 153, 154 Agamémnon: 47 n. 1 Ájax: 47 e n. 4 Alcméon: 47 e n. 1 Amores: 37, 39, 85, 147 Anacreonte: 9, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 27, 43, 45 n. 1, 59, 61, 75 e n. 1, 165 Anacreontea: pref. e intr. passim Anjo Alado, Pintor do: 16 Apolo: 19, 39 n. 3, 53 n. 2, 69 | Febo: 39 e n. 4, 53, 69, 105, 163, 165 Aquiles: 33 n. 2 e 6, 55
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Cária*: 57 Carro (constelação): 33, 35, 37 Chipre*: 39 n. 2 Cibele: 51 e n. 1 Cícero: 14 Cípris: vd. Afrodite Ciro: 11 Citera*: 37 e n. 2, 39 n. 2 Citereia: vd. Afrodite Claro*: 53 e n. 2 Cleobulo: 12, 14 Cleofrades, Pintor de: 15 Clitemnestra: 47 n. 1 Corinto*: 57 Creso: 133 e n. 1 Creta*: 57 Cristóvão de Mitilene: 10 Crítias: 14 Cronos: 37 n. 2 Dafne: 19, [163] Desejo: 85, 155 Diónisos: 13, 15, 16, 19, 33 n. 7, 69 e n. 1, 75, 121, 125, 143, 147 | Baco: 16, 39 e n. 1, 113, 119, 133, 135, 137, 161 | Lieu: 83, 35, 37, 45, 53, 111, 117, 123, 127, 135, 141, 149 | Brómio: 71 e n. 1, [129] Dor: 113 Equécrates: 11 Erífile: 47 n. 1 Erínias: 47 n. 1 Eros: 19, 33, 37, 41 e n. 1, 51, 55,
57, 73, 75, 85, 91, 95, 97, 99, 101, 107, 113, 123, 125, 155, 161, 167 Europa: 19, 145 e n. 1 Febo: vd. Apolo Filomela: 19, 49 n. 1, 79 e n. 2 Frígia*: 79, 87 Gádira*: 57 Giges: 45 Graças: 39 e n. 3, 65, 125, 129, 147 Gregório de Nazianzo: 10 Harpago: 11 Hefestos: 33 e n. 2, 35, 37, (91) Heitor: 47 e n. 4 Hera: 33 n. 2 Héracles: 47 e n. 3, 81 e n. 1 Hermes: 69 e n. 1 Hípias (tirano): 11 Homero: 29 Ífito: 47 e n. 3 Índia*: 57 Iónia*: 57 Lemnos*: 91 Lesbos*: 57 Lieu: vd. Diónisos Mégara: 47 n. 3 Megisto: 16 Ménades: 37 Mênfis*: 85 Morte: [109] Musa(s): 18, 31, 73, 101, 105, 137, 147, 159, 163 Nilo*: 85 170
Níobe: 19, 79 e n. 1 Olimpo: 149 Orestes: 47 e n. 1 Oríon (constelação): [33], 35, 37 Ouro: 157 Ovídio: 14 Pafos*: 69 e n. 2, 75 Pandíon: 79 Partos*: 87 Persuasão: 65, 67, 71 Píndaro: 15, 75 e n. 1 Plêiades: 33, 37 Polícrates de Samos: 11 Polideuces: 69 e n. 1 Pudor: 67 Riqueza: 109 Rodes*: 57, 63 Safo: 15, 16, 75 e n. 1 Samos*: 69 Sardes*: 45 Sátiros: 37 Sídon*, mulher de: vd. Europa Sileno: 131 Sinésio de Cirene: 10 Síria*: 57 Tântalo: 79 Tebas*: 47 n. 1, 87 Teócrito: 16 Teos*: 11, 17, 18 Tereu: 49 e n. 1 Tessália*: 11 Titã (Sol): 129
Titãs: 33 n. 2 Trácia*: 11 Ulisses: 47 n. 4 Zéfiro: 119 Zeus: 33 n. 2, 39, 135, 145, 149, 163
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no verso: Cronos corta as asas de Eros. Óleo s/ tela de Pierre Mignard (1695).
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